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Marcos Cintra

É possível crescer mais

Uma nota técnica publicada no boletim de conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de junho de 2007 revela que a capacidade de expansão da economia brasileira, sem que haja pressão inflacionária, aumentou para 3,8% ao ano. O número representa quase um ponto percentual a mais do que vinha sendo considerado antes da mudança da metodologia promovida pelo IBGE.


Um aspecto que chama a atenção no estudo do Ipea, e que serve de alerta, é o fato de a diferença entre o PIB potencial e o PIB efetivo estar variando em torno de zero. Isso indica que não há capacidade ociosa para sustentar um crescimento a taxas mais elevadas que os 3,8%. Porém, isso não quer dizer que o país não possa crescer 5% ou 6% em um ou outro ano, mas não será possível um crescimento sustentável por vários anos a taxas maiores que a do PIB potencial sem que haja descontrole inflacionário ou desequilíbrio nas contas externas.


Nossa perspectiva de crescimento econômico continua medíocre. A ONU divulgou um relatório mostrando a expectativa de crescimento para as 25 maiores economias emergentes em 2007 e o Brasil ficou na penúltima posição. A projeção para a economia brasileira é de 3,5%, enquanto na Rússia, Paquistão, Índia, China, Argentina e Chile o PIB deve se expandir entre 6% e 9%. Cabe lembrar que nos últimos 10 anos o crescimento médio do PIB brasileiro ficou na casa dos 2,5% ao ano, enquanto os principais emergentes cresceram em média na casa dos 7% ao ano.


Ano após ano a economia brasileira registra desempenho sofrível. Mesmo com a revisão das contas nacionais pelo IBGE, as taxas de expansão do PIB ficaram abaixo da média mundial, e muito aquém da registrada em outras economias emergentes. Muitos críticos enfatizam a necessidade de reduzir os juros para fazer o país atingir taxas mais elevadas. É indiscutível que o custo do crédito é um dos entraves à expansão do PIB, mas é preciso mais para colocar a economia brasileira numa trajetória de expansão próxima à dos países emergentes.


O Brasil pode aumentar sua taxa de crescimento de longo prazo. Ações que estimulem o aumento da produtividade e a expansão da taxa de investimentos são imprescindíveis. Além disso, é preciso ainda uma revolução qualitativa na péssima educação do país e que as reformas estruturais, como a política, a tributária e a previdenciária, sejam implementadas. Porém, é desalentador ver que os governantes por aqui não assumem suas responsabilidades. A esculhambação tomou conta da política nacional e toda a sociedade está pagando um custo altíssimo por conta disso.


 


Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA).

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