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Marcos Cintra

É preciso repensar as cidades

Entre o final de 2010 e o início de 2011, a população mundial atingirá sete bilhões de pessoas, com as cidades abrigando 3,6 bilhões desse contingente. Daqui a quinze anos, o planeta terá oito bilhões de habitantes, e cinco bilhões deles estarão residindo nas cidades. Estima-se que, no mundo, cerca de duzentas mil pessoas deixam o campo diariamente rumo às áreas urbanas.


A população urbana, que atualmente representa pouco mais da metade das pessoas no planeta, ultrapassará 60% em 2025. Essa rápida expansão cria perspectivas de caos nas grandes e médias cidades ao redor do mundo. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a preocupação é ainda maior, pois muitas dessas cidades já enfrentam situações precárias em vários aspectos, e um aumento significativo de habitantes em tão pouco tempo pode gerar um colapso urbano sem precedentes. Segundo o IBGE, a população brasileira de 193 milhões de pessoas passará para 216 milhões em vinte anos. Cerca de 165 milhões de brasileiros vivem nas cidades, e por volta de 2030, esse número aumentará para 195 milhões. As áreas urbanas do país estarão preparadas para absorver mais trinta milhões de pessoas?


A questão do crescimento populacional nas áreas urbanas não pode ser ignorada pelos gestores públicos. Grandes e médias cidades em todo o país já lidam com situações preocupantes em termos de moradia, transporte, abastecimento de água, segurança e emprego, para citar alguns dos principais problemas. A maior concentração de pessoas acentuará a degradação das condições de vida em muitas delas.


Metrópoles como São Paulo, por exemplo, já enfrentam problemas urbanos agudos, que podem intensificar-se a ponto de provocar colapsos ambientais, sociais e infraestruturais. A cidade sofre com poluição e congestionamentos, comprometendo seriamente a qualidade de vida de seus habitantes.


Em apenas 48 anos, a população de São Paulo quase triplicou, passando de 3,8 milhões de habitantes em 1960 para onze milhões em 2010. Ou seja, 7,2 milhões de pessoas a mais passaram a residir na capital paulista em um espaço relativamente curto de tempo, número equivalente, por exemplo, à população de uma cidade como Londres.


Em termos de ocupação do solo, a mancha urbana na capital paulista cresceu de maneira desordenada, com proliferação de favelas e loteamentos irregulares. Terrenos públicos e privados foram ocupados, e hoje um terço dos moradores em São Paulo vive em situação subnormal e ilegal. Surgiram vários problemas relacionados ao abastecimento de água, destinação do lixo, esgotamento hídrico, poluição e congestionamento.


É indispensável que os gestores públicos adotem uma postura responsável diante do problema do crescimento populacional, abandonando a prática de ignorá-lo, como sempre ocorreu no Brasil. É urgente pensar e repensar a vida urbana no país. Infelizmente, o planejamento a médio e longo prazos nunca foi uma qualidade na gestão pública brasileira, mas o quadro atual exige essa postura. A diretriz básica deve contemplar ações integradas entre prefeitura, Estado, União, entidades privadas e universidades. A qualidade de vida das próximas gerações está em jogo.

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