top of page
  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Até os economistas estão confusos

Na última sexta-feira, a "Gazeta Mercantil" publicou os resultados de uma pesquisa encomendada pelo presidente Sarney com o intuito de avaliar a opinião dos economistas sobre a atual política econômica. Também se tentou mapear as propostas daquela categoria profissional para superar a crise que se aproxima. Foram consultados 210 economistas de treze partidos políticos e residentes em São Paulo, Rio, Brasília e Recife.


Com relação à avaliação do governo, os resultados mostram que:


  • 81% desaprovam a política de controle da inflação;

  • 62% desaprovam a atual política salarial;

  • 54% aprovam e 44% desaprovam a política relacionada à dívida externa;

  • 62% aprovam a moratória;

  • 51% aprovam e 43% desaprovam o relacionamento com o FMI;

  • 47% aprovam e 42% desaprovam a atual política cambial.


Claramente, os economistas têm uma visão negativa sobre a atuação do governo na política econômica interna, e no geral se dividem, com uma ligeira tendência de apoio, no tocante às diretrizes seguidas nas relações externas.


De fato, estes resultados não surpreendem. A crise interna é evidente, e na questão do endividamento, a falta de opções para uma política alternativa à moratória que não justifica a incapacidade das autoridades em evitar o desencadeamento da crise cambial explica a aceitação das principais diretrizes adotadas.


Porém, quando foram pedidas propostas concretas aos economistas consultados, os resultados da pesquisa deixam claro que eles, como toda a população, não estão imunes à perplexidade que a situação econômica atual gerou no país.


Em relação à dívida externa, a grande maioria optou por manter o relacionamento com o FMI, mas sem monitoramento, por pagar a dívida externa, pela obtenção de condições mais vantajosas e pela apresentação de um plano econômico concreto. Estas sugestões surpreendem por serem, mais ou menos, o que o governo Sarney não vinha fazendo durante a gestão Funaro no ministério da Fazenda; então, por que a pesquisa mostrou que houve apoio à condução da política externa?


Quanto às políticas salarial e antiinflacionária, os resultados mostraram que os economistas não as aprovaram. Porém, como alternativas, sugeriram, basicamente, as mesmas linhas que as autoridades já vinham seguindo e que não foram aprovadas por eles mesmos. No combate à inflação, as linhas preconizadas pelos economistas foram basicamente no sentido de maiores controles administrativos dos preços, inclusive congelamento; e, na política salarial, houve preferência pela manutenção do gatilho.


Fica, portanto, a pergunta sobre as causas da desaprovação da conduta governamental, se os economistas propõem basicamente a continuidade das principais linhas de política econômica já tentadas ou ainda em curso. Se os economistas mostram-se confusos, o que não dizer dos assalariados, dos empresários e dos políticos? A experiência do Cruzado, e principalmente a forte carga emocional com que foi apresentada à população e que beirou a irracionalidade, criou a sensação de que política econômica é nada mais que um ato de vontade. Infelizmente, a crise cuja travessia apenas iniciamos mostra com toda crueza que não existem milagres; mostra também que existem princípios que não podem ser desrespeitados impunemente. A restauração da racionalidade econômica é o principal desafio da atual equipe no comando da economia.


 

MARCOS CIMTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, doutor pela Universidade de Harvard, chefe do departamento de Economia do FGV/SP, e Consultor de Economia desta Folha.

Topo
bottom of page