Neste mesmo espaço, na semana passada, tentei demonstrar que o Brasil acha-se numa rota que levará à estagflação. Várias são as causas desta constatação, porém as mais importantes são três.
Em primeiro lugar, nota-se a completa perda de capacidade do setor público para financiar seus investimentos, seja com recursos próprios ou então pelo endividamento interno ou externo. Em segundo lugar, percebe-se o nítido acirramento do conflito distributivo, o que não deve absolutamente surpreender, dadas as enormes disparidades de renda que caracterizam a economia do país. E, finalmente, a partir da moratória, o Brasil cerrou portas para um aprofundamento de suas relações com o sistema comercial e financeiro internacional. A conjugação destes fatores levará o país a uma inevitável perda de dinamismo, com sensível redução em sua capacidade de crescimento, e à intensificação das pressões inflacionárias estruturais.
A partir deste diagnóstico, é urgente a definição de um novo padrão de desenvolvimento, capaz de superar as limitações acima mencionadas. Esse novo modelo deve, inicialmente, proceder a um vigoroso processo de redistribuição de renda, pessoal, regional e setorial, para com isso neutralizar, em parte, o conflito distributivo e incentivar a expansão do mercado interno. Deve, ainda, propiciar amplos canais de investimentos ao setor privado, nacional e estrangeiro, que ainda dispõe de poupança, mas que, contudo, não tem sido orientado para investimentos produtivos, mas para o financiamento do déficit público. Incentivos aos investimentos, à capitalização das empresas pelo aperfeiçoamento do mercado de capitais, e mais ousadia nos planos de privatização, são ingredientes essenciais para possibilitar a expansão da capacidade produtiva da economia brasileira. Por fim, deve-se evitar esforços no sentido de uma maior reaproximação com o exterior, não apenas no que diz respeito a soluções para o impasse da dívida, mas ainda na direção da abertura de nossa economia aos fluxos internacionais de bens e serviços, e também de investimento.
São estes os principais parâmetros de um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil. É curioso notar que são pontos que já vêm sendo abordados por economistas de várias tendências, inclusive por quase todo o discurso econômico do governo. Não obstante, nada acontece, pois a atual administração acha-se amarrada a velhos preconceitos e a fortes restrições políticas. Além disso, a população simplesmente não acredita que o presidente Sarney tenha condições de realizar essas modificações estruturais na condução da economia brasileira. Por todos estes motivos, apenas um novo governo, efetivamente capaz de inaugurar um novo "regime" de política econômica, terá condições de ter sucesso, apesar das intenções, na maior parte das vezes corretas, da atual equipe econômica.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.