Poucas iniciativas do governo Sarney têm resistido a um acelerado processo de desgaste e de perda de credibilidade, principalmente após o fracasso do Plano Cruzado. Parecia, contudo, que o destino da equipe econômica Mailson-Abreu poderia ser diferente.
Ao longo dos últimos seis meses, foram tomadas importantes e corajosas medidas de contenção dos gastos públicos, identificados como o principal foco de pressões inflacionárias; as relações com a comunidade financeira internacional foram pacificadas; iniciou-se uma reflexão sobre a liberalização da economia com a adoção, ainda que incipiente, de algumas reformas. Mais importante ainda, a inflação não percorreu a trajetória explosiva que muitos previam. E tudo isso, sem um mergulho contracionista mais profundo do que o vivido no ano passado. Nesta situação, o pior que poderia ocorrer seria a volta da síndrome do congelamento.
Inúmeras vezes, o ministro da Fazenda tem declarado não acreditar na eficácia de um novo choque se a causa fundamental da inflação - leia-se déficit público - não estiver sob controle.
Mais do que nunca, o atual governo tem dado respaldo às medidas de austeridade dos ministros da área econômica. E pela primeira vez em quase dois anos, as expectativas pareciam estabilizadas. Até ontem.
Não há como neutralizar os rumores de choque com meras negativas. Uma ameaça de renúncia poderia ser um argumento suficientemente forte para convencer. O certo, contudo, é que a saída do ministro da Fazenda não interessa a ninguém, ao menos aos bem-intencionados. A política econômica era a única coisa que parecia estar querendo começar a dar certo. Alguém não gostou e quer estragar tudo.