A política monetária praticada pelas autoridades econômicas continua sendo um importante foco de pressões inflacionárias. Os dados referentes à expansão monetária em abril, divulgados pelo Banco Central, mostram que o governo ainda está longe de obter a necessária disciplina, sem a qual um efetivo combate à inflação jamais será obtido.
Tomando os dados referentes à expansão da base monetária em termos da média dos saldos diários - que representa com maior fidedignidade a pressão que a liquidez monetária exerce nos mercados - nota-se que, apesar do Plano Verão, as taxas anuais de expansão continuam aumentando.
Em janeiro, a expansão em doze meses da base monetária foi de 688,8%. Trata-se de uma taxa sensivelmente mais baixa do que a inflação no mesmo período, que atingiu 1.203%. Isso poderia dar a impressão de que a liquidez real da economia estaria sendo reduzida. No entanto, é importante observar que o aumento da inflação ao longo de 1988 provavelmente teve um impacto negativo na demanda por saldos reais, razão pela qual não se pode afirmar que a política monetária posta em prática tenha representado uma contração da liquidez.
Nos três meses seguintes - fevereiro, março e abril - a taxa de inflação foi sensivelmente reduzida pelos efeitos do Plano Verão. No entanto, a taxa de expansão monetária em doze meses aumentou para 901%, 970% e 981%, respectivamente.
Cabe acrescentar que seria admissível que a queda brusca da inflação causasse um movimento de remonetização da economia, acomodando, sem pressões inflacionárias, uma maior taxa de expansão na oferta da moeda. No entanto, as altíssimas taxas de juros praticadas após o plano de estabilização devem ter neutralizado essa tendência. Assim, chega-se à conclusão de que a política monetária pós-Choque Verão não tem sido compatível com um efetivo programa antiinflacionário. Isso não se coaduna com a máxima do Plano Verão de apenas gastar o que o governo arrecada, muito embora, do ponto de vista estritamente técnico, as pressões expansionistas venham das operações do Banco Central e não diretamente do Tesouro Nacional.
Por outro lado, também o Tesouro sofre as consequências de déficits imprevistos na Previdência. Os dispêndios positivos constitucionais, bem como a política de valorização do piso salarial proposta pelo Congresso, são fatores adicionais de desequilíbrio orçamentário do governo federal. Isso ocorre num momento em que começam a surgir dúvidas quanto à disposição do setor privado em absorver maiores volumes de títulos da dívida pública.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 43 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico da Folha.