É notável o progresso ocorrido nas últimas semanas nas expectativas de inflação. Chega-se até a ouvir expressões como "agora que o perigo da hiperinflação está afastado...". No entanto, também chama a atenção a fragilidade dessa nova onda de confiança. É importante investigar as causas desse otimismo inesperado e avaliar se são sólidas e sustentáveis. Caso sejam frágeis, existe o risco de retornar a uma aceleração inflacionária inesperada e descontrolada a qualquer momento.
Há algumas explicações plausíveis e reais para essa súbita confiança na economia:
Grande parte da reinflação após o Plano Verão foi impulsionada por expectativas negativas. Se as expectativas se tornam menos pessimistas, independentemente das razões, a inflação pode se estabilizar ou até diminuir. Algo semelhante parece estar acontecendo agora. Se não surgirem novos eventos, a estabilidade inflacionária pode se consolidar.
A ascensão de Collor de Mello como favorito nas próximas eleições presidenciais trouxe um elemento tranquilizador para a economia. O medo de uma vitória das esquerdas desapareceu, aumentando a confiança na moeda, nos títulos públicos e no mercado em geral. Além disso, o avanço das políticas liberais no Brasil e no mundo contribui para um clima de estabilidade econômica.
O Brasil está lidando unilateralmente com sua dívida externa, sem enfrentar represálias dos credores. Pagamentos de juros estão atrasados, e as operações cambiais estão centralizadas no Banco Central. Isso cria alguma folga nas contas públicas, e a estratégia está funcionando até agora, apesar das preocupações da comunidade financeira internacional.
O efeito Orloff agora favorece o Brasil, já que o governo argentino está tomando medidas para controlar sua situação econômica. Isso sugere que a hiperinflação é mais perigosa de perto do que de longe.
O governo está adotando medidas apropriadas para controlar a inflação, como a indexação generalizada e o aumento das taxas de juros. No entanto, essas ações não são acompanhadas de uma estratégia de longo prazo, o que pode ser problemático no futuro.
Apesar desses avanços, seria imprudente afirmar que o Brasil está livre do perigo da hiperinflação. Pelo contrário, adotar uma estratégia de contemporização em relação às causas estruturais da inflação pode resultar em ameaças ainda maiores no futuro. É fundamental que o governo aproveite esse período de estabilidade para adotar medidas que garantam a estabilidade econômica a longo prazo. Além disso, mesmo que a inflação seja controlada, uma taxa de inflação de 30% ao mês é inaceitável. É necessário tomar medidas corajosas para estabilizar a moeda, não apenas a inflação.
Além dos tópicos discutidos, também é importante analisar com mais detalhes outros dados que indicam um progresso na luta contra a inflação. O atual otimismo pode estar baseado em informações incompletas e conclusões precipitadas. Isso será abordado no próximo domingo.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 43 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor econômico da Folha.