O Brasil vem sendo, ao longo das últimas décadas, uma das economias mais dinâmicas do mundo. Apesar de passar por ciclos de menor expansão, como o ocorrido na década de 80, sempre conseguiu encontrar soluções para retomar o caminho do crescimento econômico. Atualmente, o país enfrenta uma fase crucial em sua história, onde precisa se adaptar a novas circunstâncias.
Na década de 30, durante a grande crise mundial, o Brasil iniciou o processo de industrialização. Com a impossibilidade de importar bens de consumo para atender ao mercado interno, o país começou a produzir localmente os produtos necessários. Essa estratégia manteve o crescimento econômico até a Segunda Guerra Mundial.
Nos anos 50 e 60, ocorreu a consolidação da indústria brasileira, marcando o início de uma abertura para o grande capital internacional. Durante os anos 70, deparando-se com restrições nos bens intermediários e infraestrutura básica, o país iniciou um ciclo de grandes investimentos estatais. Esses investimentos foram cruciais para desenvolver o parque industrial do Brasil, tornando-o uma nação industrializada, embora ainda subdesenvolvida. Ao mesmo tempo, uma revolução agrícola transformou o Brasil em um grande exportador de produtos primários modernos.
Como pode ser visto, o Brasil sempre respondeu corajosamente aos desafios apresentados pela evolução conjuntural e estrutural de sua economia, superando obstáculos significativos.
Hoje, há preocupações legítimas de que o Brasil possa seguir o caminho da Argentina, sofrendo uma "argentinização". Estamos em uma fase de ruptura que exigirá novas definições. Sem essas definições, corremos o risco de aprofundar a crise e torná-la cada vez mais difícil de superar.
Teoricamente, a proximidade de uma eleição presidencial e a subsequente renovação do Congresso deveriam criar um ambiente propício para uma revisão do modelo de crescimento brasileiro. Vale lembrar que, devido à reforma constitucional de 1993, os parlamentares a serem eleitos no próximo ano serão quase como constituintes, assim como os atuais.
Infelizmente, a classe política brasileira não conseguiu iniciar essa discussão nem envolver a população nesse debate. Não existem programas claros e objetivos em relação às prioridades fundamentais da conjuntura brasileira. Existem apenas enunciados vagos, documentos prolixos - porém vazios -, muitos lugares-comuns e, sobretudo, demagogia e promessas vazias.
De década em década, o Brasil demonstrou sua capacidade de mudança e crescimento. Agora não pode ser diferente. Certamente, existem obstáculos sérios a serem superados para retomar o crescimento, como o controle da inflação, a redução do déficit governamental, a renegociação da dívida pública e a integração da economia brasileira nos fluxos mundiais de comércio e investimento.
Todos esses temas são cruciais. No entanto, eles estão intrinsecamente ligados às duas principais vertentes da reforma do modelo de crescimento brasileiro: a preferência pelo setor privado em vez do setor estatal e a necessária redistribuição da renda nacional. São esses os dois pilares que sustentarão um novo ciclo de crescimento brasileiro.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 43 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor econômico desta Folha.