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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Plano é bom mas exige calibragem

A sociedade brasileira vem pedindo um programa de estabilização corajoso, consistente e abrangente. O Plano Collor satisfaz esses requisitos. A disposição de efetuar um brutal ajuste fiscal, estimado em 10% do PIB; o ambicioso programa de privatização e desregulamentação; o combate à economia informal e à evasão tributária; a implantação de uma política comercial moderada; a flutuação controlada (?) do câmbio; são todas medidas amplamente desejadas pela sociedade brasileira.


As tentativas anteriores de estabilização falharam por não atender adequadamente a essas exigências de política econômica. Até mesmo uma desvalorização do estoque da dívida pública era tida como aceitável, desde que acompanhada por um aperto de liquidez. Mas isso poderá ser interpretado como um recuo, como se os seus executores estivessem cedendo a pressões. Além disso, a indisponibilidade dos recursos aplicados no over é, de fato, um empréstimo compulsório, decretado de forma linear e pouco sutil. O uso de mecanismos tributários poderia ter o mesmo efeito sem o estigma do calote que a população identifica na medida.


No entanto, a estratégia apresenta um problema na reforma monetária, que é sua maior inovação e, ao mesmo tempo, seu maior desafio. Trata-se de um plano de estabilização com duas moedas. A transição de uma para a outra ocorrerá junto com um estimado ajuste fiscal de 10% do PIB e um forte aperto de liquidez, gerado pela indisponibilidade de recursos do over e das cadernetas de poupança. Neste ponto, contudo, a equipe econômica, ansiosa por um autêntico "overkill", comete um evidente exagero na dosagem. Além disso, não explicitou mecanismos claros e automáticos de conversão da velha para a nova moeda, gerando um potencial de incerteza e temores de insolvência que poderá comprometer a aceitação do programa.


Todos esses pontos foram corajosamente incluídos na estratégia a ser implementada por Collor. A política de rendas - congelamento seguido de pré-fixação - entra no plano num papel coadjuvante. O sucesso do programa não dependerá apenas de seus resultados. Contudo, a corrida bancária do início da semana e a febre de remarcações ocorrida nas semanas anteriores tornaram necessária sua inclusão. Além disso, este componente heterodoxo permite que a política salarial não seja alterada, evitando perdas salariais e turbulências trabalhistas. A curto prazo, os assalariados provavelmente contabilizarão ganhos.


O Plano Collor terá um forte impacto recessivo. E isso repercutirá em seguida nas taxas de emprego e de salários. Porém, é importante salientar que a contração será breve se o plano for levado adiante com determinação.

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