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Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Os desmandos no Proálcool

Álcool combustível é sensivelmente menos poluente do que a gasolina. Enquanto se observa no Brasil uma campanha contra o álcool, o Congresso dos Estados Unidos aprova o Clean Air Act, que contém como um de seus mais significativos itens a obrigatoriedade de conversão da frota de veículos governamentais para combustíveis alternativos, entre eles o metanol e o gás natural. Se exige que até 1997 sejam colocados no mercado norte-americano cerca de um milhão de veículos movidos a metanol.


A crise do Programa Nacional do Álcool mostra com estarrecedora crueza a precariedade dos mecanismos de planejamento no Brasil. Evidencia ainda o pouco caso do governo para com o consumidor. Quem não se recorda das peremptórias garantias oferecidas aos compradores de veículos movidos a álcool? A campanha foi convincente, e todos, ingenuamente, acreditamos nas promessas de seguro abastecimento do combustível e na manutenção do diferencial de preço entre o álcool e a gasolina. Promessas e compromissos não cumpridos.


Chega-se ao ponto em que, conforme noticiado pela imprensa, a própria Petrobrás investe milhões de dólares para financiar pesquisas destinadas a possibilitar a conversão de motores a álcool para o uso de gasolina, numa clara demonstração de desinteresse pela continuidade do Proálcool.


É certo que a evolução dos preços do petróleo criou condições desfavoráveis ao uso do álcool como combustível alternativo. Contudo, uma criteriosa avaliação custo-benefício pode revelar uma situação menos desvantajosa do que pode parecer.


Feitas as correções para as vantagens para a economia brasileira decorrentes do uso da mão de obra interna, da economia de divisas, das perspectivas comprovadamente positivas no tocante ao aumento da produtividade do setor alcooleiro, e da probabilidade e dos riscos de oscilações nos preços internacionais do petróleo, no futuro, a conclusão pode favorecer a continuidade e até a expansão do programa.


Cabe apontar ainda que é essencial se acrescentar na análise o...


Curiosamente, um estudo realizado por técnicos da área de suprimento da Petrobrás, conforme noticiado na imprensa, conclui que em 1994 o Brasil será obrigado a importar gasolina, em quantidade três vezes maior que a que exporta no momento. O trabalho diz ainda que se o governo abandonar o Proálcool à sua própria sorte, haverá uma corrida desenfreada para carros movidos a gasolina - inclusive com conversões de motores, supostamente com a tecnologia desenvolvida pela própria Petrobrás e já em 1991 o país passaria a importar gasolina, pois a capacidade instalada de refino estaria esgotada.


O país investiu bilhões de dólares no programa do álcool. Gerou um impressionante setor alcooleiro. Sucateá-lo será uma opção inteligente? Apenas 2% da produção atual são de veículos a álcool.

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