Na virada do ano, é importante avaliar a gestão da economia sob o governo Collor. A ameaça da hiperinflação que pairava nos dois primeiros meses de 1990 foi desfeita. Mas a inflação ganhou força após a fracassada tentativa de tratamento heterodoxo consubstanciado no confisco de liquidez. A recessão se aprofundou, o desemprego aumentou, e o ano de 1991 tem início em um clima de inflação alta e forte contração do nível de atividade. Estagflação.
As grandes reformas estruturais prometidas pelo novo governo não foram implementadas. A abertura da economia resultou apenas em importação de supérfluos, e houve um apoio tímido à política antiinflacionária. A reforma tributária se restringiu ao policia-lismo inicial, já desacreditado. A privatização não decolou. A reforma administrativa do setor público foi apenas cosmética. Enfim, uma série de promessas não cumpridas e de frustrações indisfarçáveis.
Ao que parece, a partir de meados do ano, o governo optou por adiar planos mais abrangentes de reformas econômicas para se concentrar no controle da inflação. Essa estratégia é correta, embora sem as reformas estruturais, os ganhos antiinflacionários sejam passageiros. Contudo, considerando as limitações operacionais, a concentração de esforços na política fiscal e monetária é uma alternativa realista.
Nesse sentido, a política econômica caminha na direção certa. Após eventuais ganhos no front antiinflacionário, abrir-se-ão perspectivas mais concretas para a efetivação das reformas necessárias. Antes disso, seria ilusório obter o apoio político para alterações estruturais mais profundas. Em suma, o governo reformista sucumbiu às dificuldades encontradas. Resta apenas a política antiinflacionária convencional, na qual todo o governo Collor se baseia.
Apesar de a economia brasileira estar em frangalhos, ainda há esperança de que a inflação seja controlada nos próximos meses. Depois disso, virá a difícil tarefa de reconstrução nacional. O primeiro semestre de 1991 será decisivo. Um feliz 1991 para todos nós.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE AL-BUQUERQUE, 44 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor de economia da Folha.