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Marcos Cintra

Política x Economia: quem perde?

"Na briga entre o mar e o rochedo, em se danar é o marisco" (dito popular).


A economia é, em especial no Brasil e nos seus vizinhos da América Latina, uma ciência que se tem praticado como parte do exercício político. Nos últimos anos, experimentamos inúmeros planos econômicos, criados por outros tantos ministros, sempre dirigidos por interesses políticos, geralmente distantes das reais necessidades do povo e do país.


Entretanto, observamos com certo entusiasmo que os demais países em desenvolvimento, todos aqui no Cone Sul, têm obtido a consciência de que suas economias precisam ser geridas com bases científicas e sem interferências políticas, sem interesses de grupos. Da Argentina, por exemplo, chega a notícia de que, em agosto passado, a inflação caiu a zero, o melhor índice obtido desde 1974 naquele país. E, o mais interessante, recuando nos últimos 12 meses para 9,1%, foi a primeira vez em 25 anos que a inflação argentina é inferior aos dois dígitos em um ano.


O mundo avança, e o Brasil permanece estagnado, quando não recua. Mas, por todo lado, continuamos ouvindo uma frase otimista que já envelheceu: "Somos o país do futuro, temos grande potencial". O futuro já chegou, e o potencial continua adormecido.


Por quê?


O Brasil, na contramão da história internacional, ainda prestigia aqueles que se intitulam de esquerda. Modernidade não combina com ineficiência econômica e utopia social. A defesa dos monopólios estatais, a falta de seriedade no combate à inflação, a demagogia no trato dos salários, enfim, a política do "é dando que se recebe" à frente da economia não irá levar o Brasil ao desenvolvimento.


Recentemente, em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, reuniu-se com os deputados federais e senadores do PMDB para discutir o apoio do partido ao seu trabalho e ao governo Itamar. O ponto alto das conversações, não foi como se poderia imaginar, a questão econômica e os planos do ministro para o país; em caso de vitória, é claro.


Nesse sentido, é muito desalentador ver o povo reclamar de mais um imposto, amparado pela Constituição, e não ser ouvido. O Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras (IPMF) é um estelionato intelectual de uma ideia, o Imposto Único, que, se levada a sério, poderia contribuir para efetivar uma adequada e rápida reforma fiscal e tributária.


A sociedade brasileira avançou mais do que a classe política, está amargurada com uma crise crônica, não aceita mais a politicagem em detrimento de seus legítimos interesses. A queda do ex-presidente Collor foi, para o povo, um exercício de cidadania. Para alguns políticos, apenas um "happening" com dividendos eleitorais para os seus participantes. A história ensina suas sábias lições. Aproxima-se 1994, um ano eleitoral de grande importância. O povo, certamente, estará atento na análise dos candidatos, comprometidos com a sua inalienável aspiração de um amanhã com paz, trabalho e dignidade social.


O que os parlamentares peemedebistas queriam mesmo saber, para dar o seu aval, era se o ministro seria ou não candidato. Primeiro, à presidência. Depois, até mesmo ao Senado, onde já ocupa uma cadeira. Até que isso ficasse claro, com FHC condicionando uma trégua de seis meses, a conversa não entrou nos problemas econômicos brasileiros.


Já se pode prever que essa licença deverá somar o PMDB ao PSDB na disputa pela sucessão presidencial. Com o ministro Fernando Henrique permanecendo no seu cargo.




(Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, Ph.D em Economia pela Universidade de Harvard, é professor da FGV/SP, vereador e secretário do Planejamento e da Privatização do Município de São Paulo).


Publicado no Jornal Gazeta de Moema no dia 11 de setembro de 1993 e Comércio de Jahu no dia 30 de setembro de 1993.

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