A estratégia do Plano Real tinha três etapas. As reformas estruturais, o combate à inércia e a troca da moeda. Mas os fatos não evoluíram dessa forma.
A primeira fase foi frustrada pelo Congresso, que não realizou a reforma da Constituição. E como as causas estruturais do processo inflacionário não foram atacadas, o controle da demanda agregada tornou-se a tábua de salvação do real.
É verdade que as condições são favoráveis para a manutenção da inflação em patamares aceitáveis por alguns meses.
Reservas internacionais de mais de US$ 35 bilhões; um amplo processo de abertura ao exterior; preços públicos ajustados; dívida externa renegociada; saldos comerciais significativos; e privatização em marcha, ainda que lenta.
Mas as variáveis macroeconômicas relevantes ainda não permitem antecipar condições de plena estabilidade da moeda ao longo do tempo.
Os agentes econômicos agem de acordo: não descartam o retorno da indexação em seus contratos, postergam investimentos em equipamentos e em capital fixo e mantêm seus recursos em aplicações de curto prazo.
Frente a este quadro, o que esperar nos próximos meses?
Há consenso no tocante aos impactos expansionistas em fases iniciais de planos de estabilização.
Por outro lado, também há unanimidade quanto à inelasticidade da oferta a curto prazo, agravada pelas incertezas quanto ao andamento futuro do Plano Real.
A contenção praticada pelo governo reduz a demanda agregada, como desejado. Mas há razões para temer que acabe restringindo ainda mais fortemente a oferta, estimulando-se assim as pressões inflacionárias de custo.
A única solução é uma urgente sinalização na direção de um redesenho institucional da economia.
Não há tempo a perder. O Congresso Nacional precisa funcionar agora e o recesso parlamentar em janeiro precisa ser suspenso para que se promovam as reformas constitucionais.
MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), e professor titular da Fundação Getulio Vargas.