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Marcos Cintra - Diário do Comércio

Tudo bem, por enquanto. Não se pode reclamar do ano de 1995

Tudo bem, por enquanto.


Não se pode reclamar do ano de 1995. O IGP-M da Fundação Getúlio Vargas registrou a mais baixa inflação dos últimos quarenta anos: 15,25%. Segundo a Fipe-Estadão, o setor privado contribuiu decisivamente para esse resultado, reajustando seus preços a taxas bastante inferiores às dos preços públicos, que aumentaram quase 30%.


Os rendimentos reais do trabalho mantiveram-se quase constantes, assim como os preços dos bens e salários, principalmente a cesta básica. Pela primeira vez em décadas, a classe assalariada não pagou a conta sozinha.


A economia iniciou 1995 crescendo a taxas insustentáveis de mais de 10%. O Governo puxou o freio de mão. Ainda assim, encerra-se o ano com um crescimento de 4,1%, conforme o IBGE. Apesar de ser um resultado sofrível para uma economia que no passado mostrou taxas de expansão sustentada de mais de 7% ao ano, o fato é que houve um crescimento per capita de cerca de 2%.


A taxa de investimento aumentou de 21% para 22,5% em 1995. Embora baixa em relação à década de setenta, quando chegou a 27% ao ano, não deixa de ser uma recuperação importante.


Portanto, o ano findo marcou importantes passos na consolidação do Plano Real e representa, sem dúvida, um ponto de inflexão na tendência estagflacionária que caracterizou os últimos quinze anos da economia brasileira. A expansão da taxa de investimentos deveu-se quase que totalmente à poupança externa, que aumentou de 0,3% do PIB em 1994 para 2,5% em 1995. Mas teme-se pela continuidade desses fluxos de poupança no futuro.


Mas nem tudo são rosas. Longe disso. As preocupações quanto a 1996 aumentaram muito, devido às graves contradições presentes na política econômica do Plano Real.


A economia brasileira parece viver situação semelhante à do otimista que caiu do décimo andar de um edifício e que, ao passar por amigos postados na janela do quinto andar, acena, alegremente, dizendo "até aqui, tudo bem!"


Pois o potencial reinflacionário continua presente. Há tensões no sistema de preços. No front salarial, a justiça trabalhista ainda não se desvencilhou do pernicioso hábito da desindexação, e restam correções importantes a serem feitas nas tarifas públicas.


As taxas de juros estão desequilibradas. Por serem excessivamente elevadas, acarretam graves problemas fiscais para o Governo, o maior devedor da economia brasileira. Se, de um lado, aumentam a poupança privada interna, de outro inviabilizam a formação da poupança pública. Em última análise, pouco contribuem para a formação de capital doméstico, favorecendo os voláteis capitais externos, que afluem ao Brasil em busca de polpudos diferenciais frente às taxas internacionais.


Além disso, a política de juros altos afeta a política cambial. Em vez de ser utilizado como instrumento de uma política industrial de abertura competitiva, está servindo como instrumento punitivo de contenção de preços internos. Câmbio baixo desequilibra a balança de pagamentos, desestimula a produção interna e exporta empregos.


O crescimento do PIB brasileiro tem sido irregular. A taxa esperada para o primeiro trimestre de 1996 não chega a 2%. Volta-se, assim, à dinâmica estagnacionista.


O suicida já está passando pelo quarto andar. A única rede que poderá salvá-lo é o ajuste fiscal, composto pelas reformas estruturais da economia brasileira - a tributária, a administrativa do setor público, a previdenciária e a patrimonial. Representam a derradeira esperança de manutenção dos bons resultados de 1995, também nos anos vindouros.


Mas que o Governo haja rápido.


Marcos Cintra é vereador da cidade de São Paulo.

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