O brasileiro pode afirmar sem medo que hoje estamos vivendo a mais aguda crise dos últimos 500 anos. Vários foram os momentos da história nacional marcados por desequilíbrios de ordem política, econômica e social; no entanto, a atual confluência de fatores negativos vem gerando um sentimento de desalento em todos os segmentos sociais.
A violenta queda na renda disponível das famílias brasileiras, fruto de uma carga de impostos que não para de aumentar e de despesas crescentes com bens cujos preços são administrados pelo poder público (água, pedágio, combustíveis, energia, etc.), é uma realidade que acaba gerando um círculo vicioso que faz com que as pessoas se sintam cada vez mais pobres.
Outro fator gerador de insatisfação é o fantasma do desemprego. As empresas são, da mesma forma, duramente castigadas. A exposição da economia nacional ao comércio internacional, além de ter sido feita de qualquer jeito, impõe condições cada vez mais terríveis ao setor produtivo. Os juros pornográficos, a carga de impostos alta e ineficiente e a infraestrutura caindo aos pedaços são fatores limitantes para a competitividade brasileira e a geração de empregos e renda.
A atual crise vivida pelo País pode ser atribuída à miopia desenvolvimentista do governo federal. Para ser reconhecido como o governo que promoveu a estabilidade monetária, sacrificou-se outros fatores fundamentais para o desenvolvimento econômico. A reforma tributária, por exemplo, elemento decisivo para alavancar o setor produtivo, foi levada em banho-maria pelo governo e sua base aliada no Congresso.
A obsessão pelo equilíbrio fiscal gerou erros grosseiros na condução da política econômica, o que desembocou num aumento da dívida mobiliária federal de R$ 60 bilhões em 1994 para R$ 550 bilhões em 2001. Para administrar essa dívida restou aumentar impostos e juros.
Para piorar tudo, os investimentos em energia minguaram nos últimos anos. Na iminência dos apagões, a conta é mais uma vez apresentada aos consumidores residenciais e empresas, que terão que arcar com custos maiores e a possibilidade de cortes. Ao mesmo tempo em que é chamado para pagar a conta, o brasileiro se revolta, com razão, com denúncias pesadas de corrupção em órgãos como a Sudam e a Sudene.
Especialistas dizem que a crise energética pode se estender até 2003, e estudos apontam que o racionamento pode fechar mais de 850 mil postos de trabalho apenas em 2001.
Vivendo uma crise após a outra, o brasileiro, apesar de calejado por tantas adversidades, foi atingido em cheio. Sem pão há tempo, o circo também está ameaçado pela falta de luz.
Marcos Cintra é deputado federal pelo PFL-SP