A cidade de São Paulo, a locomotiva do Brasil, está perdendo força. O país sempre acreditou na pujança da economia paulista e, principalmente, da paulistana. Com orgulho, todos consideravam a cidade uma antevisão do que seria o Brasil do futuro. A imagem da cidade era de uma metrópole rica, dinâmica, moderna -um modelo enfim ao resto do país. Mas, acima de tudo, São Paulo era uma vistosa afirmação da capacidade de trabalho, da inteligência e da criatividade contidas no "gigante adormecido", pronto a despertar e a surpreender o mundo.
Mas infelizmente, analisando alguns dados do IBGE e do Seade referentes aos últimos anos, percebe-se que a economia paulistana vem minguando em relação ao restante do país. Presencia-se uma perturbadora realidade, ignorada por muitos, principalmente pelas autoridades responsáveis pela gestão da cidade, que nunca se colocaram como arautos do inconformismo com essa decadência.
Vale lembrar que, em 1980, o PIB da cidade de São Paulo representava 15,8% do PIB brasileiro -quase o dobro do que representa hoje. Porém, o mais alarmante é que o PIB paulistano vem sofrendo perdas absolutas, e não apenas relativas. A preços de 2000, o PIB paulistano era de R$ 110,3 bilhões em 1980.
Aumentou para R$ 141,2 bilhões em 1996, e desde então vem caindo, chegando a apenas R$ 107,9 bilhões em 2003. São Paulo encolheu 23,5% entre 1996 e 2003. Para ilustrar ainda mais a decadência da economia paulistana, cabe apontar que, enquanto o PIB brasileiro, a preços de 2000, cresceu 63,6% entre 1980 e 2003, o de São Paulo caiu 2,2%.
Mas há outros dados preocupantes. Segundo o Seade, o rendimento médio real familiar caiu de R$ 3.820 em 1986 para R$ 1.570 em 2004; e o rendimento médio real familiar per capita despencou de R$ 1.230 para R$ 660 no mesmo período. Caíram pela metade.
Entre 1991 e 2005, o rendimento médio real dos paulistanos ocupados na indústria foi reduzido de R$ 1.480 em 1991 para R$ 1.340 em 2005; no comércio, de R$ 1.240 para R$ 950; nos serviços, de R$ 1.530 para R$ 1.360. São Paulo não apenas encolheu, mas também empobreceu.
É hora de rever conceitos e de indagar o que vem faltando para São Paulo se manter na vanguarda do país. Será carência de lideranças, de políticos competentes, de empresários dinâmicos, ou de trabalhadores educados? Ou será apenas um movimento histórico inevitável, fruto da realização das oportunidades não-aproveitadas existentes nas demais regiões do país? Mas isso explicaria a queda relativa de São Paulo, jamais o seu empobrecimento.
Lembro de Nova York em franca decadência lá pelos anos 80, até que surgiram alguns grandes prefeitos, que reverteram a degradação da cidade, dando-lhe novo entusiasmo e transformando-a na atual capital mundial. Rudolph Giuliani é o que mais chamou a atenção por sua liderança inquestionável, mas não se pode esquecer as contribuições importantes de Ed Koch e de outros líderes políticos que revitalizaram aquela cidade norte-americana.
É hora de encontrar lideranças semelhantes em São Paulo, que recuperem nossa auto-estima e conduzam a cidade para ser aquilo que, há alguns anos, todos pensavam que viria ser.
São Paulo precisa de um líder que atue no sentido de retomar seu dinamismo histórico. Não é possível permanecer indiferente ao processo acelerado de degradação econômica e social que a cidade vive. O território paulistano continua sendo um local inigualável de oportunidades que poderiam ser exploradas de tal forma a se restabelecer a imagem de riqueza e modernidade do passado.
MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), e professor titular da Fundação Getulio Vargas.