Todo ano a ONG Transparência Internacional divulga o índice de percepção de corrupção no mundo. É um indicador que mostra onde a maracutaia corre mais solta. O relatório mais recente mostra que em 2015 foram avaliados 168 países e o Brasil ficou em 76° lugar. O país ficou com 38 pontos, 5 a menos em relação a 2014, e teve o pior resultado de uma nação quando comparado com o levantamento do ano anterior.
O último relatório da entidade revela que o Brasil divide seu vexatório posto da malandragem com Bósnia e Herzegovina, Burkina Faso, Índia, Tailândia, Tunísia e Zâmbia. De acordo com a ONG a queda expressiva do país no ranking deve-se a roubalheira que tomou conta da Petrobrás. Em um comunicado a entidade diz: “Não é surpreendente que o Brasil, afetado pelo maior escândalo de corrupção de sua história pelo caso Petrobrás, tenha sido o país da América que mais caiu no índice este ano”.
É muito triste, mas a situação brasileira no ranking da corrupção já não causa nenhum espanto. A malandragem continua sendo uma endemia. Uma vergonha! Países latino-americanos como Chile e Uruguai são apontados como menos corruptos que o Brasil.
Conforme sempre aponta a Transparência Internacional, a corrupção nos grandes projetos públicos é um dos maiores canais de desvio de dinheiro público e representa um enorme entrave para o desenvolvimento de um país. Os recursos roubados dos cofres públicos diminuem os investimentos em áreas vitais como saúde e educação e nas ações de combate à pobreza.
É revoltante ver o que acontece com o suado dinheiro do contribuinte brasileiro entregue ao poder público. A classe média não aguenta mais pagar tanto imposto e ver que parte dos recursos vai pelo enorme ralo da corrupção. Para piorar, sofre os terríveis efeitos do aumento da miséria causada pela carência de investimentos sociais.
O Brasil precisa empreender uma faxina gigantesca em suas instituições. É necessário combater esse tumor maligno impregnado na vida pública que é a corrupção. Não é possível que o brasileiro tenha que trabalhar mais de quatro meses no ano para abastecer o Estado e uma minoria se aproprie de recursos públicos de maneira inescrupulosa e sorrateira.
O princípio da restrição orçamentária vale para qualquer agente econômico. Mais do que crescer, o país precisa resgatar uma enorme parcela marginalizada da população. Tudo isso demanda recursos que precisam ser aplicados de modo eficaz e eficiente. Com orçamentos públicos já insuficientes frente à grande demanda social, torna-se dramático investir com a corrupção comendo parte do dinheiro.
Tanto a grande corrupção, que envolve somas vultosas como o superfaturamento de obras e as fraudes em licitações e concorrências, assim como a pequena corrupção, traduzidas em valores relativamente baixos de subornos e propinas, condenam cada vez mais pessoas à miséria material, moral e intelectual.
O país deve ser passado a limpo. A degradação moral dos que deveriam zelar pela eficiência na gestão pública e pela qualidade de vida do cidadão contribui para a proliferação da violência e da ignorância.
Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Publicado no Correio do Estado: 12/08/2016
Publicado na edição de agosto da Revista AMAIS