A PEC 241, agora PEC 55, no Senado Federal, limita o gasto primário da União. A proibição de aumentos reais da despesa tornou-se necessária, frente à alternativa de majoração de impostos, para eliminar o crescente rombo orçamentário que, este ano, deve ultrapassar R$ 170 bilhões. A medida vai impor a necessidade de uma gestão mais eficiente das contas públicas.
Um temor apresentado pelos analistas da PEC do teto dos gastos é que ela poderia reduzir a capacidade de investimento público, o que tornaria mais lenta a retomada do crescimento econômico. Essa é uma preocupação que mobiliza o governo, no sentido de não permitir que as inversões em infraestrutura possam se transformar na variável de ajuste das contas públicas.
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre 2001 e 2014, a média de investimentos em infraestrutura no Brasil foi equivalente a 2,18% do PIB, sendo o poder público, em seus três níveis, responsável por cerca de metade do total. Segundo a entidade, para se aproximar dos demais países emergentes, o país deveria elevar essas inversões para algo próximo de 4% do PIB.
É notório que, mais do que preservar os investimentos em infraestrutura, o país precisa expandir sua taxa de formação de capital para acelerar o crescimento econômico de forma sustentável. Mas, como levar esse intento adiante, frente às restrições impostas com a limitação dos gastos da União, determinada pelo novo regime fiscal?
Mais do que qualquer discussão envolvendo aspectos ideológicos, o encaminhamento dessa questão passa necessariamente pelo fortalecimento e consolidação de um modelo de financiamento baseado em parcerias entre os governos e as empresas. Trata-se de uma necessidade pragmática, quando se confronta as demandas sociais que pressionam o Estado e a capacidade empresarial de atendê-las.
De um lado o setor privado possui capacidade técnica, gerencial e administrativa, que deve ser incorporada na produção de bens e serviços, a cargo do poder público. Além disso, há liquidez e estrutura ociosa nas empresas que podem ser canalizadas para investimentos, sob responsabilidade governamental.
Em relação ao poder público, a forma cooperativa com a iniciativa privada é o modo mais eficiente e eficaz para viabilizar projetos que, de outra forma, seriam postergados, durante anos ou décadas. Por meio dessa interação, o país pode expandir a oferta e manter a prestação de serviços, nos setores de energia, transporte, telecomunicação e saneamento.
A PEC 241 pode possibilitar a consolidação de um ambiente que estimule e facilite a celebração de parcerias, entre os agentes público e privado, no intuito de viabilizar projetos de infraestrutura. Nesse sentido, surgem as Parcerias Público-Privadas (PPPs), como um instrumento com potencial para assumir um importante papel para o investimento público no país, mesmo após 12 anos de frustrações nesse sentido.
É importante atentar para a necessidade de aprimoramento das PPPs no novo regime fiscal. A burocracia, leis rígidas e pouco adaptativas e a fragilidade financeira do Estado são empecilhos que limitam seu uso. Seu aperfeiçoamento e as mudanças em curso no Brasil devem fortalecer seu papel, como mecanismo de expansão da infraestrutura e para qualificar a gestão pública.
Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Publicado no Jornal SPNorte: 18/11/2016
Publicado no Jornal A Gazeta Regional - Caçapava: 18/11/2016