É consensual entre as correntes de pensamento econômico a ideia de que a inovação é a força que move o desenvolvimento de uma nação. Mesmo que um país tenha abundância de recursos naturais, de trabalhadores e de capital, isso não garante crescimento econômico sustentado e melhoria na condição de vida das pessoas, se não houver investimento adequado em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I).
A inovação está estreitamente relacionada com a criatividade, um recurso valioso que precisa ser cultivado. Essa é uma necessidade cada vez mais importante, no atual estágio de transformação tecnológica e de integração mundial da produção.
Há uma aceitação geral de que o Brasil é criativo, mas não inova. Por que isso? Há casos emblemáticos de produtos criativos que são destaques internamente e em mercados internacionais. Alguns exemplos sempre lembrados são as sandálias Havaianas, os produtos de perfumaria ecológica da Natura e o site de comércio eletrônico Submarino. Estes são casos de criatividade bem-sucedida que, ao serem combinados com o fato do país ser classificado como um dos mais empreendedores do mundo, pela Global Entrepreneurship Monitor e pela organização de fomento ao empreendedorismo Endeavour, mostram que o Brasil tem um grande potencial inovativo.
Segundo o economista alemão Teodore Levitt, da Universidade de Harvard, a criatividade não é suficiente para gerar inovação. O primeiro conceito significa pensar coisas novas e o segundo consiste em fazer coisas novas. Isto nos faz crer que a inovação no Brasil é um fenômeno que se traduz como uma adaptação criativa e não como “destruição criativa”, ideia criada pelo economista Joseph Schumpeter para definir algo que gera novos mercados e novos ciclos de negócios.
Independentemente do que nos sugere a afirmação de Levitt, a criatividade verificada no Brasil é um potencial reconhecido mundialmente que deve ser explorado no sentido de gerar inovação, ainda que não seja rigorosamente nos moldes da ideia schumpeteriana. Aliás, cumpre dizer que a esmagadora maioria das inovações ao redor do mundo ocorre a partir de algum conhecimento prévio. O produto ou processo que surge a partir daí se torna uma adaptação melhorada que causa melhoria na eficiência de um produto ou de um processo. Essa é a regra universal em relação à inovação e o Brasil fica atrás, quando comparado à maioria dos países desenvolvidos e emergentes.
Uma das questões que se coloca em termos da inovação no Brasil se refere ao baixo retorno das aplicações em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Investe-se relativamente bem no setor, mas os retornos são baixos. A relação custo benefício do processo inovativo brasileiro é insatisfatória. No relatório Global Inovation Index, publicado anualmente, o país tem resultado pior, quando comparado, por exemplo, com Costa Rica, Chile, Sérvia e Colômbia.
A inovação é um conceito que não foi assimilado pela sociedade brasileira ao longo das últimas décadas. Criaram-se algumas ilhas de excelência tecnológica, mas sem que houvesse um sistema articulado de inovação no país.
Atualmente, o sistema de inovação brasileiro vem sendo reestruturado visando à interação entre capital, conhecimento e empreendedorismo. Esses elementos devem atuar em um ambiente que seja capaz de captar suas ações e integrá-las para que haja eficácia em termos da produção de inovação. Inúmeras ações nesse sentido estão sendo implementadas, gerando perspectivas promissoras para o desenvolvimento do país.
Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).