A administração pública brasileira vive uma crise sem precedentes. O caos fiscal dos anos recentes comprometeu de maneira ainda mais dramática um Estado modorrento que se arrasta há anos. Ocorreram avanços a partir dos anos 1990 com as privatizações e concessões, mas hoje ainda há muito a ser feito nesse quesito. A administração indireta se constitui em um sorvedouro de recursos públicos em troca de serviços ineficientes. A situação da administração direta não é diferente quando se contrapõem às verbas absorvidas e os serviços públicos prestados. Nos últimos anos houve uma proliferação de ministérios que não se justifica sob o ponto de vista da racionalidade econômica.
A administração pública brasileira, de modo geral, está falida e demanda ações de impacto. Faltam recursos para investimentos em todos os segmentos, verbas são direcionadas para programas cujo retorno é baixíssimo e o gigantismo do poder público contribui para a propagação da corrupção, endemia que potencializa as ineficiências, o empreguismo e o aparelhamento político do Estado.
A falência do Estado brasileiro deve ser vista sob três ângulos: há uma crise orçamentária onde o poder público não tem recursos para atender as demandas sociais e, por isso, absorve poupança privada para tapar déficits crônicos; evidencia a derrocada da tão propalada ideia de que um Estado intervencionista é necessário para promover o desenvolvimento econômico; e os mecanismos de gerenciamento estatal são claramente ineficazes para permitir racionalidade no emprego do dinheiro público.
A indispensável reforma administrativa no Brasil passa necessariamente pela redução do Estado e sua menor interferência na economia. O gigantismo do poder público nacional pode ser exemplificado pela expansão da carga tributária em cerca de cinco pontos do PIB, entre meados da década de 1990 e hoje. Outro ponto nesse sentido se refere ao déficit público, que equivalente atualmente a 9% do PIB. Em resumo, o governo brasileiro absorve mais de 40% da riqueza nacional para oferecer serviços de má qualidade.
O Estado brasileiro não cabe mais no orçamento. O atual ônus tributário imposto sobre os contribuintes é um exagero quando comparado com outras economias com o mesmo nível de renda do Brasil. O retorno para sociedade em termos de serviços é precário fundamentalmente por conta de interesses políticos que se sobressaem à racionalidade econômica e que levam à corrupção e ao péssimo gerenciamento dos recursos empregados no custeio da máquina pública.
A reforma administrativa deve atacar em três frentes: enxugamento do Estado, redução do déficit público e melhoria na qualidade e eficiência dos serviços públicos. Deve se basear em uma vertente patrimonial, que agilize privatizações e concessões, uma vertente burocrática, que combata a complexidade e elimine cargos de indicação política, e uma vertente gerencial, que busque analisar a relação custo-benefício dos programas.
O governo que assume em 2019 tem a missão de levar adiante medidas que estruturem um novo Estado brasileiro. Reduzir o tamanho do poder público, permitindo diminuir a carga tributária; combater a burocracia e a corrupção; e criar mecanismos de avaliação da relação custo-benefício dos gastos públicos são diretrizes fundamentais para recuperar a gestão pública no país e qualificar os serviços essenciais.
Doutor em Economia pela Universidade Harvard, professor titular de Economia na FGV. Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto único. É Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).