Estabeleceu-se um vazio no debate sobre as questões vitais para o Brasil. O país está carente de projetos, e os formadores de opinião (partidos políticos, entidades empresariais e de trabalhadores, universidades, etc.) não se dão conta de que são responsáveis por estabelecer uma discussão que traga propostas para equacionar nossos problemas mais agudos.
O tema recorrente dos constantes movimentos que surgem refere-se aos elevados impostos. Esse também é o assunto preferido de políticos que, vira e mexe, vão a público para protestar contra a carga tributária e dizer que é necessária uma reforma. Mas ambos são incapazes de apresentar um projeto para o país.
A economia brasileira precisa acelerar seu crescimento, mas isso não acontece principalmente por causa dos impostos. Segundo o Banco Mundial, as empresas deixam de investir no Brasil por causa da carga tributária.
De toda a riqueza que o Brasil produz, 37% vai para o governo sob a forma de impostos. Esse nível só ocorre em países ricos como, por exemplo, a Alemanha, Inglaterra e Itália. Em economias emergentes como a mexicana, a chilena e a chinesa, o governo retira entre 15% e 20% de toda a riqueza que os trabalhadores e empresários geram.
Essa alta carga de impostos que o brasileiro paga é retirada em grande parte através dos preços das mercadorias e dos salários. Quando compra um quilo de café, paga a conta de luz ou põe gasolina no carro, o consumidor desembolsa entre 35% e 55% de imposto embutido nos preços. Nos salários são cerca de 42% de tributos, quase o dobro do verificado em países como os Estados Unidos e o Japão, por exemplo.
Essa situação provoca uma grande injustiça. Quem ganha menos no Brasil acaba pagando mais imposto. Quem recebe, por exemplo, R$ 12 mil por mês paga 26% em impostos, enquanto quem recebe R$ 800 por mês paga 49%.
O Brasil precisa de um projeto de reforma tributária que cobre menos imposto sobre as mercadorias e sobre os salários. Com isso, os preços poderiam cair e sobraria mais dinheiro no bolso das pessoas. Com mais dinheiro no bolso, as vendas aumentariam, as empresas empregariam mais e a economia poderia crescer a taxas maiores.
A saída é acabar com os impostos sobre as mercadorias e salários e criar um único imposto que seria cobrado sobre as movimentações bancárias. Essa proposta fará com que o assalariado, o mais penalizado hoje, pague menos tributo.
O Imposto Único é o projeto que o Brasil quer. Segundo uma pesquisa realizada nos meses de julho e agosto deste ano pelo Instituto Cepac, três em cada quatro brasileiros conhecem o Imposto Único, sendo que 78% são favoráveis a ele.
Os movimentos e os partidos não deveriam se omitir nesse momento crucial para o país. Não basta ficar discursando que é preciso uma reforma tributária. O brasileiro quer propostas inovadoras e corajosas como o Imposto Único, que, conforme mostrou a pesquisa do Cepac, é a saída que a sociedade deseja.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.