O Brasil sempre foi considerado um país dinâmico, empreendedor e, acima de tudo, otimista em relação ao futuro. No entanto, recentemente, essa situação se inverteu.
Dificuldades externas que surgiram no início da década, uma notável queda nas taxas médias de crescimento, uma acentuada deterioração nos salários reais, principalmente nas camadas mais baixas da população, e, acima de tudo, a profunda decepção após o fracasso do Plano Cruzado são os principais responsáveis por essa rápida mudança de atitude.
Mais recentemente, as dificuldades em controlar o déficit público também contribuem para uma sensação de impotência diante dos graves problemas econômicos. Pela primeira vez na história recente do Brasil, percebemos que o setor privado está desmotivado para investir, apesar de ter recursos financeiros disponíveis. Enquanto isso, o setor público, que desempenhou um papel significativo no passado no impulsionamento do crescimento, está com sua capacidade de poupança totalmente esgotada, sem meios de obter financiamento interno ou externo.
Claramente, estamos chegando ao fim de um ciclo de crescimento. O Brasil está industrializado, urbanizado e razoavelmente auto-suficiente, com alguma capacidade de competir nos mercados internacionais. No entanto, também enfrenta níveis dramáticos de pobreza e desigualdade, com todas as suas consequências, e não conseguiu alcançar autonomia tecnológica, um pré-requisito para avançar para um estágio mais avançado de desenvolvimento.
A tendência de crescimento constante, na qual todos os brasileiros acreditavam, está sendo substituída por incertezas que sugerem a possibilidade de o país seguir o caminho daqueles que não conseguiram sustentar o "take-off" de suas economias, e o espectro da "argentinização" do Brasil se torna cada vez mais palpável.
Precisamos redefinir um novo modelo de crescimento, identificar novas áreas de investimento e atribuir novas funções aos agentes econômicos, principalmente removendo os obstáculos que impedem essa reorientação.
Apesar de todas as evidências em contrário, o Brasil ainda não reconheceu que está preso a uma máquina estatal obsoleta, distorcida e profundamente prejudicial a qualquer esforço para superar os atuais desafios econômicos. A concepção ultrapassada do Estado como um agente modernizador, justificando a teoria do "big push", ainda persiste, apesar de todas as evidências que mostram o contrário.
A necessidade de reavaliar a participação do Estado na economia não diz respeito apenas à ineficiência, ao clientelismo, à corrupção e aos déficits financeiros, mas também à abertura de vastos canais de investimento para o setor privado, gerando um novo impulso na formação de capital. É essencial que o Estado cumpra suas responsabilidades em áreas insubstituíveis, como educação, saúde, saneamento e habitação, onde a negligência atinge níveis desumanos.
Precisamos ir além do mero combate ao déficit público; é urgente iniciar um amplo processo de privatização da economia brasileira, questionando a legitimidade dos grandes monopólios estatais. Devemos evitar que o Estado e seus beneficiários impeçam o país de traçar uma nova trajetória de crescimento.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor econômico desta Folha.