O Brasil cresceu em média 8,67% ao ano na década de setenta; nos últimos oito anos, porém, a expansão foi de apenas 2,39%. Isso implica dizer que a renda per capita está estagnada desde 1980, enquanto no decênio anterior ela se expandiu em 6% ao ano. Nos oito últimos anos da década passada, a renda por habitante aumentou quase 60%. Hoje, no entanto, os brasileiros experimentam uma estranha sensação de perda e frustração.
A taxa de formação de capital - o principal determinante a curto prazo do crescimento da renda - chegou no último trimestre do ano passado à alarmante marca de 15%, certamente a mais baixa da história econômica recente do Brasil. Apenas dez ou doze anos atrás, investíamos mais de 25% do PIB. O país perdeu a poupança externa, perdeu a poupança do setor público e hoje sofre com a perda da poupança privada devido à fuga de capitais.
Essa comparação não é um exercício teórico, mas sim a constatação de duas situações concretas vividas pela população brasileira. A radical transformação de uma conjuntura extremamente positiva para outra de visível privação ocorreu num curtíssimo espaço de tempo. Portanto, é inevitável que comparações sejam feitas e que o sentimento de perda seja intenso.
A frustração pode facilmente se transformar em desespero. Exemplos muito próximos, como os da Argentina e do Uruguai, mostram que a estagnação crônica é um processo de difícil superação, uma vez enraizado na estrutura econômica e social de uma nação. São dois casos verdadeiramente deprimentes, e que parecem estar tragicamente se reproduzindo em outras economias da América Latina.
As imensas dificuldades enfrentadas pelo Peru - infelizmente agravadas pelo populismo irresponsável de seu governo e pela explosão de violência ocorrida na Venezuela em protesto à deterioração das condições de sua economia - são eloquentes alertas do que poderá acontecer com países como México e Brasil.
A eleição presidencial que se aproxima marcará definitivamente o futuro do país. O Brasil não se acha hoje impulsionado por uma tendência de longo prazo que, se existisse, definiria inexoravelmente os grandes rumos de sua economia, independentemente da vontade do governo. Acha-se solto, indefinido, sem perspectivas concretas. Assim, a eleição não será apenas uma escolha para definir um estilo de gestão, ajustes na distribuição de renda ou opções de crescimento setorial e regional.
Esta eleição será diferente. Caberá ao presidente eleito definir um projeto para o país, colocando-o numa nova dinâmica histórica. Será um período de construção de novas fundações e não de acabamentos.
Quem melhor compreendeu esta realidade foi Jânio Quadros, ao acenar, ainda que muito primitivamente, com a marcha para o oeste. Todos os demais candidatos, e candidatos a candidatos, estão sendo movidos apenas pelas contingências da presente conjuntura.
O país precisa escolher um projeto. Mas onde estão as opções? A única que se vislumbra com clareza e dramaticidade é a Síndrome do Cone Sul, que já ameaça contaminar o restante de nosso desafortunado subcontinente.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 43, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.