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Marcos Cintra

Clichê fora de moda

Um clichê fora de moda foi ressuscitado no começo do ano pelo presidente Lula ao declarar que, para gerar desenvolvimento econômico, os governos devem ser grandes e fortes. Dilma Roussef corroborou a crença de seu chefe ao afirmar que, caso seja eleita, pretenderia implantar um Estado forte para instalar no país um novo "desenvolvimentismo".


O discurso do PT em defesa da maior presença do Estado na economia revela que o partido resolveu resgatar do baú um modelo de gestão que a história havia sepultado há décadas. A empolgação a favor do intervencionismo estatal exacerbado levou o governo a pensar em recriar empresas como a Telebrás, para tocar o programa de massificação de banda larga, e em criar novas estatais nos setores de fertilizantes e de energia.


Esse afã de expandir o poder do Estado-produtor é uma leitura equivocada, ou oportunista, das operações de socorro financeiro executadas pelos países ricos para minimizar os efeitos da crise global, intensificada no final de 2008.


Fui aluno na Universidade de Harvard de um famoso historiador econômico, professor Alexander Gerschenkron. Ele mostrou que países como França e Alemanha construíram Estados grandes e fortes para complementarem o setor privado no deslanche do processo de crescimento de suas economias. Tais governos investiram em bancos, indústrias e serviços de transportes e comunicação tendo como padrão comparativo a Inglaterra, onde tais investimentos eram privados.


Mas isso foi no século 19. Naquele momento, a presença pública tornou-se necessária para suprir a falta de capitais privados, que eram escassos na Europa continental. Assim, o papel substitutivo do Estado foi essencial para alavancar o desenvolvimento naquelas economias.

No Brasil, ocorreu algo semelhante. O processo de desenvolvimento econômico com base na intervenção estatal direta foi utilizado no governo de Getúlio Vargas, nos anos 40, quando foram criadas a CSN, a Petrobrás, a Vale e outras. Naquela época, seria impossível dar impulso à industrialização brasileira sem a ação do Estado.


Esse modelo de desenvolvimento, ocorrido há um século e meio na Europa e há mais de sessenta anos no Brasil, não pode ser resgatado para a economia brasileira nos dias atuais, pois não condiz com o cenário econômico contemporâneo.


No mundo globalizado, Estado grande e forte, como deseja o PT em seu discurso, enfraquece os setores privados e gera desconfiança junto aos investidores ao redor do mundo. Quando a economia fica à mercê do poder público, exposta a interesses de natureza predominantemente política, recursos estrangeiros que poderiam ser canalizados para alavancar o crescimento econômico se retraem, deixando de gerar emprego e renda.


 

Publicado na Gazzetta D'Italia: Maio de 2010

Publicado no Jornal SPNorte: 14/05/2010

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