Toda ano, a ONG Transparência Internacional produz o ranking dos países mais corruptos do mundo. Para elaborar a relação, a entidade questiona o setor privado sobre a frequência com que é obrigado a pagar propinas ao governo, corromper funcionários estatais ou contribuir para desviar dinheiro público. A metodologia serve como um termômetro que revela onde os políticos mais abusam no trato do patrimônio público, utilizando-o como se fosse um bem particular, pertencente a um partido, a um grupo de pessoas ou a um segmento empresarial. Revela onde eles mais se alvoroçam no sentido de tornar o Estado refém de interesses privados.
O último levantamento da corrupção ao redor do mundo refere-se a 2011 e abrange 183 nações. Conforme esse relatório, os cinco países mais honestos são: Nova Zelândia, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Singapura. Na América do Sul o destaque fica para o Chile, na 22a posição. Os Estados Unidos estão em 24° lugar.
A situação do Brasil continua sendo vexatória. O país ficou em 73° lugar, atrás de nações como Arábia Saudita, Turquia, África do Sul, Botsuana, Gana e Ruanda. Isso mesmo, em países africanos e do Oriente Médio, onde a ilicitude nas relações público-privada é, historicamente, vista como um fenômeno endêmico, a corrupção é menos perceptível que na sociedade brasileira.
O Brasil continua sendo um caso vergonhoso em termos éticos. A maldita corrupção segue comprometendo o potencial de desenvolvimento do país. A maracutaia impregnada na sociedade brasileira é um dos fatores que limitam os investimentos na economia nacional.
O fato é que não daria mesmo para esperar que a percepção da corrupção no país pudesse ser menor. Afinal, quem não se lembra de casos como o mensalão, o desvio de dinheiro na saúde pública pelos sanguessugas, o tráfico de influência praticado pelo filho da ex-ministra Erenice Guerra e as negociatas do contraventor Carlos Cachoeira?
O levantamento da Transparência Internacional reforça a necessidade de uma reforma política no país. Ela é uma demanda fundamental para moralizar a administração pública brasileira e combater a corrupção. É uma ação que deve ser capaz de 'desprofissionalizar' a política e desmantelar as organizações criminosas incrustadas no governo. Não é só através dela que o Brasil vai enfrentar o problema, mas ela é indispensável nesse processo.
A reforma política deve remodelar os parâmetros comportamentais dos homens públicos brasileiros e uma de suas diretrizes deveria ser o combate aos políticos de carreira. Um cidadão que tenha perdido sua condição de sustentação no setor privado, que se afastou de sua profissão e que passe a depender da política para sua manutenção, torna-se capaz de tudo e de qualquer coisa para sobreviver. A profissionalização na política é um dos fatores que alimentam a vergonhosa corrupção que impera no Brasil.
*Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Publicado na Revista AMais: Setembro de 2012 Publicado no Jornal Perfil Econômico: 07/12/2012
Publicado no Brasil 247: 20/06/2012