A pesquisa realizada pelo DataFolha para avaliar a receptividade do Plano Bresser mostra que a população não sente efeitos positivos da política de estabilização; ainda pior, a maioria não acredita no sucesso da estratégia antiinflacionária do governo.
Apenas 13% acharam que sua vida melhorou após o novo choque econômico, contra 45% que acharam que piorou; 58% acreditam ter sofrido perdas de poder aquisitivo, contra 13% que acham terem tido ganhos; 65% acham que o plano não está dando certo; e como prova de desinteresse, 57% não fiscalizam os preços congelados.
Comparando-se esses resultados com pesquisas anteriores, nota-se que a tendência geral da população não se alterou - continua havendo ceticismo e ressentimento contra o programa econômico do governo. Aos trinta dias de vigência do congelamento de preços, 76% dos paulistanos entrevistados achavam que seu poder de compra havia caído; 71% não acreditavam no plano, e a porcentagem dos que previam que, com o novo choque, a vida tenderia a piorar aumentou para 61% da amostra, contra 40% que tinham a mesma opinião cinco dias após o anúncio do plano de estabilização. No dia 21 de junho, a Folha mostrou que 76% da população pesquisada não acreditava que o governo cumpriria sua promessa de cortar gastos, feita quando da divulgação do Plano Bresser.
Apesar de todo o pessimismo popular que cerca a estratégia econômica do ministro Bresser Pereira, os primeiros resultados do programa têm sido bastante favoráveis. A inflação caiu para menos de 8% em julho - embora a medida oficial tenha mostrado apenas 3% - e para o mês de agosto, se espera que não ultrapasse, na pior das hipóteses, 5%. Ao mesmo tempo, os principais indicadores do comércio apontam para uma recuperação de vendas durante o mês de julho, e o desemprego não atingiu as proporções que muitos vaticinavam apenas algumas semanas antes do congelamento.
Cabe indagar se é importante para o sucesso de um plano antiinflacionário que a população, e os agentes econômicos em geral, acreditem que se logrará êxito. Ainda na sexta-feira última, por ocasião da palestra de encerramento do 7º Encontro Latinoamericano da da Econometric Society, o ministro Bresser Pereira reafirmou que o apoio da população não é essencial para o sucesso de um plano de combate à inflação. O importante, segundo ele, é que as medidas sejam coerentes com os objetivos propostos; se corretamente elaboradas, haverá êxito, mesmo que as pessoas acreditem no contrário.
Não há concordância neste ponto. Se a população não crê na queda da inflação, ela perdurará, pois as causas da chamada inércia inflacionária não se encontram apenas na inflação passada; estão também fortemente visíveis nas expectativas acerca da inflação futura. Apenas no caso de uma forte crise interna, as expectativas altistas de preços poderiam ser totalmente neutralizadas e evitar que as mesmas expectativas se transformem em realidade. Porém, o governo não deseja promover uma recessão, nem vai permitir quedas adicionais nos salários reais da população. Nestas circunstâncias, a credibilidade da política econômica conta, e muito.
O Plano Bresser tem apenas sessenta dias, e os resultados positivos que já foram colhidos devem-se muito ao impacto imediato do congelamento de preços - mesmo que frouxo, como o praticado - do que à eliminação de pressões inflacionárias latentes. Inicia-se agora a fase mais delicada da operação, que é a passagem para uma estrutura menos rígida de controle de preços.
O abono que o presidente concedeu aos trabalhadores poderá contribuir para aumentar a boa vontade da população para com a atual política econômica. Porém, isto poderá acontecer por razões erradas, se a elevação dos salários for interpretada pelos agentes econômicos como um sinal de que se deseja reaquecer a economia. Neste caso, o tiro sairá pela culatra. A saída do congelamento será dificultada, e os bons resultados já obtidos poderão não se repetir em futuro próximo, a não ser que o governo obtenha enorme sucesso nas outras frentes de combate - principalmente no corte do déficit público.
Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, 41 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.