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Marcos Cintra

Finanças públicas e a nova crise global

A partir de 2008 os países ricos começaram a elevar os gastos públicos visando amenizar a crise econômica global iniciada no mercado imobiliário dos Estados Unidos. De início, o Congresso norte americano destinou US$ 700 bilhões para socorrer banqueiros e o G-20 injetou US$ 1 trilhão na economia.


O aumento dos gastos públicos nos países ricos não teve o resultado esperado, uma vez que suas economias cresceram pouco ou permaneceram estagnadas. As conseqüências das despesas governamentais maiores foram a expansão das dívidas públicas e o aumento dos déficits orçamentários.


Nos Estados Unidos o endividamento atingiu o limite de US$ 14,3 trilhões e só foi autorizado um novo teto depois de um embate político histórico no Congresso daquele país. Contudo, o acordo gerado, que prevê aumento de tributos e cortes de despesas, não foi capaz de prover um plano fiscal abrangente. Há a expectativa de aumento do endividamento mais à frente e previsões apontam que dentro de seis meses a um ano será preciso um novo limite para a dívida.


Na Europa, países como Grécia, Irlanda, Portugal, Itália e Espanha registram expressivos desequilíbrios orçamentários e endividamentos elevados. A economia grega deve ser a primeira da lista a dar calote na dívida pública. A resistência dos europeus quanto a aumento de impostos e redução de despesas vem gerando conflitos que ganham as ruas, criando tensões sociais de grande magnitude que dificultam os ajustes fiscais necessários. Países em situação mais sólida não estão imunes porque seus bancos são credores das economias mais vulneráveis do bloco.


Na Europa a situação fica mais tensa porque a moeda comum acaba sendo um empecilho para os países em dificuldade. O Banco Central Europeu dita as regras monetárias para a região e eles não podem adotar políticas específicas para cada caso.


O endividamento e o desequilíbrio fiscal paralisam as duas maiores economias do planeta. A zona do euro e os Estados Unidos representam quase 50% do PIB global e uma crise mais profunda nelas contaminará o resto do mundo, afetando de modo mais dramático os países com maior grau de abertura comercial.


O aumento dos gastos públicos evitou o aprofundamento da crise global três anos atrás, mas será a causa da turbulência que está prestes a se instalar. O desequilíbrio financeiro dos governos norte americano e europeu será o estopim do novo abalo econômico.


Um plano de reestruturação das dívidas soberanas dos países ricos, nos moldes do Plano Brady dos anos 80, cuja essência é a troca de títulos antigos por papéis novos com desconto, deve ser implementado. Por enquanto, essa -medida tem resistência da Alemanha, que vem socorrendo as economias em dificuldade.


Em relação aos estímulos à atividade econômica, há economistas que defendem elevação dos

gastos públicos nos países ricos. Isso é um erro, podendo elevar ainda mais o déficit, uma vez que essas despesas são pontuais e passageiras, tendo impacto reduzido na propensão marginal a consumir da população. Seria mais eficiente aumentar a renda permanente das famílias, derivada de cortes de impostos, para que o consumidor volte a gastar economia volte a girar.

 

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. www.marcoscintra.org

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