O plano real vai bem. Entretanto, poderá enfrentar dificuldades bem mais cedo do que se pensa. Até agora, foi uma bem-feita troca de moeda, visando eliminar a inércia inflacionária. No que se refere às variáveis básicas da economia, como salários, câmbio e juros, o que se observa é uma artificialidade em tudo isso. E já começam a surgir problemas que o fracasso das reformas estruturais empurrou para debaixo do tapete, e que agora começam a se tornar evidentes.
Em primeiro lugar, os salários foram convertidos em médias. No entanto, os aumentos de preços ocorridos no final de junho, ainda não refletidos na inflação, significarão perdas significativas no poder de compra dos assalariados. Além disso, com a inflação residual estimada em cerca de 5% em julho, é provável que surjam reivindicações salariais, comprometendo o congelamento dos salários e dando início a pressões por reindexação. Na data-base de setembro, podem ocorrer os primeiros embates, quando aumentos de cerca de 15%, mais a inflação de julho e agosto, serão solicitados pelos bancários.
Um segundo ponto de preocupação são os altos juros. Embora sejam necessários para proteger o plano contra aqueles que conspiram contra ele, eles aumentam os custos de vários setores, que já estão tentando repassar os encargos financeiros para os preços. Além disso, pressionam os orçamentos do governo, uma vez que o setor público é o maior tomador de recursos na economia.
Também é importante observar que a fixação da taxa de câmbio, aliada à inesperada valorização do real em relação à URV, pode criar fortes tensões comerciais. Estima-se que os exportadores já tenham perdido cerca de 10% de sua competitividade. Embora o estoque de divisas seja mais do que suficiente para sustentar essa situação artificial por vários meses, essa política pode resultar em perdas significativas nas reservas cambiais. Além disso, pode ser recessiva e ter um custo social significativo.
A nova moeda foi aceita pela população. No entanto, observa-se que o Plano Real já começa a enfrentar algumas crises, e muitas outras podem surgir nos próximos meses.
Publicação: Santa Barbara D'Oeste Diário.