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Marcos Cintra

Inovação e globalização

Estudos mostram que a inovação, um conceito ligado à ciência e à tecnologia, assume um papel cada vez mais importante no crescimento econômico sustentável. Cálculos econométricos indicam que a mera disponibilidade de máquinas, infraestrutura e trabalhadores não explica completamente o processo de crescimento da produção. Nas economias desenvolvidas, a expansão econômica está profundamente ligada à inovação e à maior capacitação da mão de obra que esse processo exige. Nas principais economias do mundo, a ideia consolidada é que sem inovação não há crescimento econômico de longo prazo. Essa importância da inovação se torna ainda mais clara com a crescente integração entre as nações.


Com a expansão dos mercados, há uma maior especialização de países e regiões, e essa nova divisão do trabalho demanda melhoria contínua para manter a competitividade das economias. A inovação, relacionada à globalização, está vinculada à nova configuração global da produção, que começou a se formar a partir dos anos 80 com a redução de barreiras alfandegárias em vários países, a abertura da China e da Índia ao comércio e aos investimentos internacionais, e a dissolução da União Soviética. A economia mundial se tornou mais integrada e a dimensão dos mercados cresceu extraordinariamente.


Nesse novo sistema mundial de produção, denominado cadeia global de valores, os Estados Unidos, Europa e Japão concentraram a fase de projeto dos produtos. Em países com abundância de recursos naturais, mão de obra barata e amplo mercado consumidor, houve uma especialização em fornecimento de insumos e mão de obra para o processo. A China e a Índia se tornaram, respectivamente, a fábrica e o escritório do planeta devido aos custos baixos com mão de obra. A Rússia emergiu como um grande ator internacional devido às suas vastas reservas de recursos naturais e à base tecnológica desenvolvida durante a Guerra Fria.


E o Brasil, em que ponto se encontra nesse cenário? Qual é a situação do país em relação à inovação e à sua integração com o resto do mundo? Ao Brasil coube o papel de fornecedor de produtos minerais e alimentos para o mundo. Grande parte desse papel foi desempenhado pela relação bilateral do país com a China. Os chineses, como os principais processadores de matérias-primas do mundo, passaram a demandar produtos brasileiros de baixa tecnologia, como minério de ferro e soja em grão.


Devido a essa situação, a economia brasileira ainda representa apenas 1% do comércio internacional e fica à margem das cadeias globais de valor, que incluem bens e serviços com alto grau de absorção tecnológica e movimentam mais de US$ 20 trilhões anualmente, ou seja, 60% do comércio mundial. A fragilidade da estrutura de inovação brasileira resultou no país permanecendo como um mero exportador de produtos primários e recursos naturais com baixo nível de processamento, enquanto outros países emergentes se especializaram em bens de média e alta tecnologia.


É imperativo mudar o foco e investir em projetos de inovação que coloquem a economia nacional na era conhecida como "indústria 4.0" ou "indústria digitalizada". Esta é a minha principal diretriz à frente da Finep.


 

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. É Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.


Publicado no Jornal A Gazeta Regional (Caçapava-SP): 30/09/2016

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