A tecnologia está revolucionando os meios de pagamento ao redor do mundo. Aos poucos, a moeda eletrônica substitui a moeda manual, e o Brasil assume papel de destaque nesse processo. A proporção do papel moeda na economia brasileira em relação ao PIB, cerca de 3%, é uma das mais baixas do mundo. Está no mesmo patamar observado na França, Alemanha e Holanda.
A tendência é que as economias migrem cada vez mais dos pagamentos realizados com papel moeda, e até mesmo com cheques, para meios eletrônicos de liquidação de operações. Isso se deve ao custo envolvendo ambas as formas de pagamento. Uma transação eletrônica custa o equivalente a um terço de uma operação utilizando papel.
Dados do Banco Central dão uma ideia da utilização crescente da moeda eletrônica nas economias. No relatório "Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo do Brasil - Adendo 2010", entre 2005 e 2009, países como, por exemplo, Alemanha, Bélgica, Espanha, Portugal, Reino Unido e Suíça reduziram, em média, em mais de 51% a participação dos cheques nas transações sem uso de dinheiro manual. Na Suécia, a redução foi de 100%, e no Brasil, de 49%. As formas de pagamento no varejo que mais cresceram foram os cartões de débito e de crédito. Os destaques desse aumento foram: Suécia (88%), Estados Unidos (59%), Itália (46%), França (41%) e Brasil (37%).
A necessidade de reduzir custos de transação aos agentes produtivos e os riscos dos sistemas de pagamentos colocaram o Brasil na vanguarda desse processo em função dos vultosos investimentos dos bancos. Para se ter uma ideia, de 2007 a 2010, o setor investiu R$ 76 bilhões em tecnologia.
Cumpre dizer que o advento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) em 2002 fez o Brasil contar com uma das estruturas de transferências de crédito mais eficientes do mundo através da utilização das TEDs (Transferências Eletrônicas Disponíveis) e DOCs (Documentos de Créditos).
O dinheiro eletrônico implica em custos menores das transações e isso, em última análise, determina grande parte da estrutura de uma economia. Quanto mais os custos forem reduzidos pelas novas formas de dinheiro, as trocas serão dramaticamente atomizadas.
A economia brasileira conta com uma base crescente de instrumentos de pagamento eletrônico através de cartões de plástico, e ela deve continuar se expandindo. No final de 2010, o País registrava 226 milhões de cartões de débito (aumento de 38% em cinco anos) e 179 milhões de cartões de crédito (aumento de 151% em cinco anos).
Toda essa estrutura de pagamento foi viabilizada com a expansão dos terminais eletrônicos no comércio e da rede bancária, lembrando ainda o destacado papel do Banco Postal em atender o público de baixa renda. Tudo isso difunde a moeda eletrônica. Através dessa forma de dinheiro, os cidadãos que eram excluídos dos serviços bancários passam a usufruir dos benefícios da tecnologia.
O mundo vive uma revolução desencadeada pelo dinheiro eletrônico. Isso terá um impacto profundo na atividade produtiva, assim como causado pelas novas formas de dinheiro criadas a partir das mercadorias-moeda.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.
Publicado no Jornal do Bom Retiro: Junho/2011