Conforme apurou o Fórum Econômico Mundial no ano passado, o sistema tributário brasileiro é o pior entre 134 países avaliados, fato que compromete a competitividade da economia nacional. É uma situação vexatória, uma vez que, nos últimos vinte anos, o país vem debatendo a reforma tributária, mas quase nada foi feito no sentido de melhorar a estrutura de impostos visando a reduzir seus custos, minimizar a sonegação e estimular a produção.
A carga tributária em descompasso com o nível de renda do brasileiro, a complexidade da legislação e o elevado custo relacionado com o cumprimento de normas fiscais são aspectos tributários que limitam o desempenho da atividade produtiva nacional. Isso ocorre fundamentalmente porque o Brasil se tornou refém de uma visão fiscal conservadora que torna o que é ruim ainda pior. O país ainda vê a instituição de impostos sobre o valor agregado como uma alternativa viável enquanto a Europa convive com problemas graves de fraudes no seu IVA e os Estados Unidos nunca se atreveram a embarcar nesse tipo de imposto. Uma amostra do quanto esse tributo seria péssimo para o Brasil foi a transformação de parte do PIS/Cofins em um IVA. Essa mudança fez o ônus tributário crescer e a estrutura ficar mais vulnerável à evasão.
A última proposta de reforma tributária em discussão no Congresso, que felizmente não foi adiante, insistia em criar um grande IVA, cuja alíquota poderia ultrapassar 32%, o que estimularia fortemente a sonegação e elevaria os custos públicos e privados. Definitivamente, o IVA não seria a forma mais adequada para melhorar a qualidade do sistema tributário brasileiro.
A saída para uma reforma tributária que reduza a carga de impostos e os custos administrativos para as empresas e o governo, e ainda combata a sonegação, é a instituição do Imposto Único sobre Movimentação Financeira. Através dele, seriam eliminados tributos de natureza arrecadadora nos três níveis de governo, que representam 27% do PIB, e em seu lugar haveria um imposto de 2,8% sobre os débitos e os créditos de cada lançamento nas contas-correntes bancárias. Os tributos que permaneceriam referem-se aos previdenciários pagos pelos trabalhadores e outros segurados, aos regulatórios (ITR e comércio exterior) e aos que representam a poupança dos trabalhadores (FGTS e PIS).
O ponto de partida para a implantação do Imposto Único sobre Movimentação Financeira já foi dado com a aprovação em 2002 da PEC 474/01, pela Comissão de Reforma Tributária da Câmara dos Deputados. Esse projeto está pronto para ser votado em plenário, bastando para isso que haja interesse dos parlamentares e do governo. A ideia seria começar pela substituição dos tributos federais, num primeiro momento, eliminando-se numa etapa seguinte os impostos estaduais e municipais.
O Imposto Único é a alternativa viável para melhorar a competitividade do país na área tributária. É um projeto que simplifica o sistema, combate a sonegação e reduz a carga tributária para todos os contribuintes, sem que o governo perca recursos.
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. mcintra@marcoscintra.org