A perspectiva de que empresários responsáveis por mais de 70% do PIB firmem um pacto de estabilidade de preços até o final do ano demonstra que o plano de estabilização começa a se firmar junto à sociedade. Pela primeira vez, os agentes econômicos assimilam um programa anti-inflacionário como sendo capaz de alterar o regime fiscal e monetário do país.
É evidente que o compromisso de manter os preços estáveis não bastará para controlar a inflação de forma permanente. Há que ter colaboração do setor trabalhista e do governo. Sem isso, haverá o risco de surgir uma forte inflação reprimida, pronta a explodir no início do próximo ano. Mesmo assim, trata-se de uma contribuição importante para a continuidade do plano.
Não se pode esquecer que, por enquanto, o Plano Real é uma estratégia de transição. O governo extirpou a inflação inercial, com o realinhamento de preços relativos por meio da URV, que permitiu a troca do padrão monetário. Nada mais. A parte mais importante de um plano de estabilização, que é a mudança de regime fiscal e monetário, está para ser feita. Será no Congresso que o Plano Real será testado. Serão necessárias reformas institucionais profundas para que a economia se estabilize e reinicie uma trajetória de crescimento.
A reforma tributária foi eleita por todos os candidatos presidenciais como a mais importante e, com certeza, encabeçará a pauta. Projetos como o do Imposto Único serão debatidos. Outros temas terão prioridade, como a Previdência, o desmonte dos cartórios e monopólios estatais, a maior autonomia da autoridade monetária, a continuidade da abertura ao exterior, a reforma administrativa e as reformas político-eleitorais.
O Plano Real será moldado pelo próximo Congresso. A atual administração apenas pavimentou o caminho, e o pacto empresarial, que agora se delineia, mostra o respaldo social que está se formando em torno desta estratégia de transição. Não se trata de um pacto para eleger FHC, mas de um compromisso contra a inflação. Uma prova de maturidade da sociedade, que encontrou uma liderança confiável.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 48 anos, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), é vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Fundação Getulio Vargas (SP). Foi secretário do Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração Paulo Maluf.