Em um programa de TV na semana passada, Aloizio Mercadante criticou o Imposto Único, afirmando que a proposta é inviável por não ter precedente histórico. Com isso, ele evitou discutir a essência do projeto, que aparentemente desconhece. O candidato do PT sugere que a reforma tributária no Brasil deve ser copiada de outras economias. Isso revela duas características mentais indesejáveis em um vice-presidente: um complexo de inferioridade e um conservadorismo arraigado. O deputado parece acreditar que nada pode ser criado em nosso país. Essa visão é coerente com a do PT, que se destaca em criticar e destruir, mas é incapaz de propor alternativas. É por isso que o PT fracassou ao torpedear o Plano Real. Fez de tudo para evitar sua aprovação no Congresso e agora faz de tudo para desmerecer seus resultados.
O Brasil possui duas características essenciais para a implantação do Imposto Único: um alto grau de desmonetização e um setor bancário sofisticado, com um sistema integrado de compensação. Nenhuma outra economia no mundo reúne condições tão favoráveis para a implantação do Imposto Único. Portanto, o mimetismo cultural de Mercadante fica prejudicado.
O atual modelo tributário, que Mercadante aparentemente deseja manter, foi introduzido no Brasil por Roberto Campos em 1967. Foi uma revolução que, de forma inédita no mundo, criou um imposto sobre valor agregado. Se na época ele fosse deputado, é provável que Mercadante exigisse uma "prévia experiência histórica" e o modelo jamais teria sido introduzido. Que primor de conservadorismo!
Roberto Campos reciclou seu pensamento tributário, apoiando o Imposto Único, e deu uma lição de progressismo ao PT. Aliás, se é para satisfazer a visão retrógrada de Mercadante, cabe apontar duas curiosidades. O imposto sobre transações tem vivência histórica no dízimo e no imposto "turnover" que existiu na Alemanha até meados da década de 60. Está satisfeito, deputado Mercadante? Podemos agora discutir o Imposto Único, ou o deputado continuará com seus prolegômenos irrelevantes?
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 48 anos, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), é vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Fundação Getúlio Vargas (SP). Foi secretário do Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração Paulo Maluf.