O Brasil está retrocedendo e permanece em uma posição humilhante no ranking da corrupção. A organização Transparência Internacional avalia periodicamente diversos países para determinar o grau de corrupção em cada um. Dos 176 países analisados em 2014, o Brasil ocupa a 69ª posição. Os países com melhores indicadores são a Dinamarca, Nova Zelândia e Finlândia, enquanto os mais corruptos incluem a Somália, Coreia do Norte e Sudão. O Brasil, infelizmente, está mal classificado neste ranking, sofrendo com a endemia da corrupção.
Países latino-americanos, como o Chile e Uruguai, são considerados menos corruptos que o Brasil. Além disso, nações africanas, como Gana, Botswana e Ruanda, também apresentam uma situação melhor em termos de corrupção. A corrupção em grandes projetos públicos é apontada como um dos principais canais de desvio de dinheiro público, representando um grande obstáculo para o desenvolvimento do país. Os recursos desviados dos cofres públicos prejudicam os investimentos em áreas cruciais, como saúde, educação e combate à pobreza.
É revoltante ver o dinheiro suado dos contribuintes brasileiros ser desviado pelo enorme ralo da corrupção. A classe média já não suporta mais pagar tantos impostos e testemunhar que uma parcela significativa desses recursos é desviada de maneira impiedosa. Para piorar, ela sofre com os graves impactos do aumento da miséria, causado pela falta de investimentos sociais adequados.
Nos últimos anos, a Polícia Federal realizou operações que desmantelaram quadrilhas atuando em diversos setores da vida pública. A Operação Lava Jato, por exemplo, será lembrada como o maior escândalo de corrupção da história brasileira, no qual bilhões foram desviados da Petrobras. Há suspeitas de que esquemas semelhantes ocorreram no BNDES e na Eletrobras.
O Brasil precisa realizar uma limpeza profunda em suas instituições. É essencial combater esse câncer que é a corrupção, que está infiltrada na vida pública. É inaceitável que os brasileiros tenham que trabalhar mais de quatro meses por ano apenas para financiar os cofres públicos, enquanto uma minoria se apropria de parte desses recursos de maneira desonesta e sorrateira.
O princípio da restrição orçamentária é válido para todos os agentes econômicos. O país precisa não apenas crescer, mas também resgatar uma grande parcela da população marginalizada. Isso demanda recursos que devem ser aplicados de maneira eficaz e eficiente. Com orçamentos públicos já insuficientes diante das demandas sociais, torna-se um drama investir quando a corrupção consome parte significativa do dinheiro.
Tanto a grande corrupção, envolvendo grandes quantias, como o superfaturamento de obras e fraudes em licitações, quanto a pequena corrupção, caracterizada por subornos e propinas de menor valor, condenam cada vez mais pessoas à miséria, não apenas material, mas também moral e intelectual. A degradação moral daqueles que deveriam zelar pela eficiência na gestão pública contribui para a proliferação da violência e da ignorância. O lema "Brasil: pátria educadora" do governo federal parece mais adequado a "Brasil: pátria corrompida".
Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. Atualmente, é Subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.