"Se algo pode dar errado, é provável que dê", diz uma das "leis de Murphy".
No Plano FHC, esta máxima deve merecer a atenção das autoridades econômicas. Apesar de todo o cuidado na elaboração do programa, vários fatores podem conspirar contra seu sucesso. Uma preocupação são as notícias, sem confirmação oficial, de que a execução orçamentária não está sob controle. Em fevereiro, o governo teve surpresas desagradáveis e não divulgou o déficit de caixa do Tesouro. Como a consistência do plano depende do ajuste fiscal prévio, compromete-se a credibilidade de toda a estratégia. É preciso, portanto, que a questão seja esclarecida. O problema pode se agravar em abril, quando o governo federal deverá pagar duas folhas de salários, com a antecipação do pagamento do dia 5 para o dia 30.
Outra fonte de incerteza está no comportamento dos agentes econômicos após o real. Espera-se uma inflação residual não negligenciável. O arbitramento das perdas será desgastante para o governo. As perdas terão de ser definitivas, mas quem as aceitará passivamente? A economia brasileira se assemelha à do viciado em remédios. A qualquer sinal de dor, se entope de aspirina. No caso, mesmo que a inflação pós-real seja baixa, todos buscarão a indexação, com repasses a preços e a salários, o que poderá acelerar uma "breinflação". Uma solução seria postergar a troca da moeda, aguardando a estabilização dos aumentos de preços em cruzeiros reais. Porém, os primeiros sinais vindos do setor produtivo indicam que a forma de conversão salarial estaria implicando aumentos reais das folhas de salários. Neste caso, seria remota a possibilidade de uma rápida estabilização das taxas inflacionárias, e o governo necessita de resultados rápidos para atender seus objetivos políticos.
Finalmente, constata-se o emperramento das reformas institucionais. O processo de revisão das reformas econômicas parece que vai fracassar. Sem elas, a base de sustentação do plano desmorona, as expectativas de estabilização se revertem, e o projeto pode desandar muito mais rápido, apesar de sua correta formulação.
MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 48 anos, é doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA), é vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da FGV (SP). Foi secretário do Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração Paulo Maluf.