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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

O fim da linha

O Plano Bresser foi um dos bons programas de estabilização tentados no Brasil. Partiu de um diagnóstico realista das causas da inflação e mostrou uma consistência lógica digna de elogios. No entanto, fracassou.


Não há como negar que uma política econômica é boa ou ruim na medida em que seus resultados sejam alcançados ou não. Neste sentido, a coerência interna é de pouca valia se não existem condições concretas para sua implementação.


Desde o Plano Cruzado, o ministro Bresser Pereira vem demonstrando enorme preocupação com a questão dos preços relativos. Daí seu empenho em estabelecer regras de congelamento e de descongelamento suficientemente flexíveis para permitir que o equilíbrio de preços ocorresse dentro de patamares inflacionários relativamente estáveis.


Contudo, foi exatamente nesta questão que seu programa econômico não obteve sucesso. Seja em função da ineficácia dos controles dos gastos públicos, principalmente pelo efeito dos reajustes salariais do funcionalismo civil e militar, ou então pelo insucesso do uso da URP para inercializar a inflação, os agentes econômicos passaram a formar fortes expectativas inflacionárias.


Assim sendo, apesar do forte desaquecimento da economia a partir da redução do poder aquisitivo do assalariado decorrente da inflação do primeiro semestre do ano, não foi possível promover o reequilíbrio de preços relativos num contexto de inflação estável.


As pressões inflacionárias atuais são predominantemente de expectativas, e a exacerbação da demanda, nem nas pressões de custos. Permanece no ar um clima de suspense em relação a um possível novo congelamento, o que faz com que todos se precavenham reajustando seus preços e margens além do necessário para corrigir distorções criadas pelos controles de preços.


Neste sentido, o que de melhor o governo poderia fazer é neutralizar estas expectativas. Maior liberalização do mercado, eliminação dos reajustes mensais de salários pela URP em troca de negociações salariais livres, um forte aperto fiscal (o que implicaria o apoio do presidente, dos ministros, dos governadores e ainda da cúpula do PMDB) e uma rígida programação monetária são ingredientes essenciais, embora extremamente difíceis, numa estratégia para estabilizar a inflação.


Os planos heterodoxos já mostraram todas as suas limitações. Cabe ao governo reconhecer esta derrota e retomar o caminho da ortodoxia econômica.


 

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.

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