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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Um exemplo da falência do governo Sarney

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque

Consultor econômico da Folha


A passagem do professor Luiz Carlos Bresser Pereira pelo Ministério da Fazenda é um exemplo eloquente da falência do governo Sarney, cuja única realização na área econômica tem sido a premeditada desmoralização de homens de bem.


Não bastasse o desgaste que infringiu nos ex-ministros Dornelles e Funaro, o grupo palaciano prossegue numa cega e incompreensível direção, cujo único resultado será transformar o Brasil numa economia decadente e sem perspectivas de crescimento.


Quando assumiu o ministério, o professor Bresser Pereira se municiou de sua competência e seriedade para elaborar um plano de emergência coerente e que recebeu quase unânime aprovação. Nos meses seguintes ao congelamento, conseguimos evitar o desastre da hiperinflação e até mesmo vislumbramos o início da recuperação da atividade econômica. Lastreado por um Plano de Controle Macroeconômico simples, mas ao mesmo tempo ousado, surgiu uma esperança de superação da atual crise brasileira. Foi uma tentativa honesta que incorporou as duras lições do Plano Cruzado, mas que, como logo ficou claro, não recebeu o respaldo do presidente Sarney, da classe política e até mesmo de alguns subordinados do ministro.


Bresser Pereira valentemente enfrentou as transferências de recursos públicos a empresas em dificuldades financeiras; se opôs abertamente à demagogia salarial que apenas prometia aumentos nominais, mas que ameaçava arrochar ainda mais os rendimentos reais; defendeu até o fim sua proposta de austeridade fiscal, cortes de subsídios e maior equidade tributária.


Errou no "timing", já que ainda em setembro ou outubro deveria apresentar os planos que hoje o derrubam; mas, de qualquer forma, olhando em retrospectiva, provavelmente aquelas sugestões teriam o mesmo fim de hoje: a lata do lixo do presidente Sarney.


Bresser, por puro patriotismo e fortalecido por suas enraizadas convicções, suportou situações que um presidente da República jamais poderia impor a seus ministros. O Brasil só pode estar lamentando a saída do professor Bresser Pereira e a oportunidade desperdiçada de vir a ser uma economia de primeira grandeza.


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