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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Cepal versus tigres asiáticos (3/4)

Como vimos no domingo passado, o desempenho das economias industrializadas afeta significativamente o crescimento dos países em desenvolvimento.


No entanto, é na definição de uma estratégia interna que encontramos os fatores condicionantes mais importantes para o crescimento. Neste terceiro artigo sobre modelos de desenvolvimento, apontaremos diferenças significativas no ajuste às novas condições da economia internacional observadas entre os países do terceiro mundo que exportam manufaturados e estão altamente endividados.


Os primeiros têm suas exportações mais diversificadas, com apenas metade delas direcionada para os países desenvolvidos. Os países endividados, por outro lado, concentram mais de 70% de suas exportações nesses mercados. Eles são forçados a gerar altos superávits comerciais em moedas fortes devido às remessas de juros a que estão submetidos, o que os torna ainda mais dependentes dos mercados dos países desenvolvidos. No entanto, o impacto mais significativo da questão do endividamento está relacionado com o potencial de crescimento das economias do terceiro mundo.


Os países em desenvolvimento que exportam manufaturados mantiveram uma média de crescimento de 7,4% entre 1965/73 e de 6% entre 1973/80 (em comparação com 6,5% e 5,4% na média de todos os países em desenvolvimento). Os países endividados registraram taxas de crescimento de 6,9% e 5,4%, respectivamente, próximas, portanto, da média global dos países pobres. No entanto, a partir de 1982, com a crise de liquidez internacional, os grandes exportadores mantiveram uma taxa de crescimento média de 6,3%, enquanto os países endividados registraram apenas 0,75% de crescimento.


Sem dúvida, o ajuste externo ao qual os países endividados foram submetidos foi severo. Os anos 80 já são chamados de "década perdida" em termos de crescimento econômico, e para países e populações atormentados pela pobreza, e às vezes pela miséria, o desperdício de uma década inteira se torna um fator de frustração e revolta, com consequências sociais e políticas imprevisíveis.


A crise do endividamento externo é um fato incontestável. Entre 1970 e 1985, o serviço da dívida pública externa como percentagem do Produto Nacional Bruto dos países em desenvolvimento aumentou de 1,5% para 4,3%. Especificamente para os países mais endividados, esses números foram de 1,6% para 5,1%, respectivamente, enquanto para os exportadores de manufaturados, aumentou de 1,2% para apenas 2,7%. A situação se torna ainda mais angustiante quando se considera a dívida privada.


O impacto da crise do endividamento forçou os países devedores a uma forte contração em seus investimentos. Com a falta de novos ingressos de recursos externos desde o início da década, esses países se tornaram exportadores líquidos de capital da noite para o dia, o que teve efeitos negativos na oferta de poupança e, portanto, nas taxas de formação de capital e no crescimento econômico.


Os dados até 1985 mostram grandes quedas nas taxas de investimento e de poupança externa para a maioria dos países em desenvolvimento. Essa tendência certamente continuou piorando.


Nesse sentido, é crucial que os países desenvolvidos se esforcem para evitar que as taxas de juros reais externos atinjam níveis superiores ao teto histórico de 3%. Além disso, é fundamental reiniciar os fluxos de capital de empréstimo e de risco, que sofreram uma interrupção abrupta na década de 80, para aliviar o estrangulamento externo que afeta grande parte das economias em desenvolvimento.


No entanto, podemos nos perguntar se todos os males e contradições que afligem os países subdesenvolvidos têm origem no comportamento das nações industrializadas. O subdesenvolvimento é necessariamente a contrapartida do desenvolvimento dos países industrializados? Serão as economias em desenvolvimento vítimas de um sistema econômico inerentemente perverso?


Aceitar tais interpretações da história equivaleria a um determinismo injustificado e, ao mesmo tempo, eximiria as elites dos países pobres de qualquer dose de incompetência e falta de visão que não podem ser facilmente descartadas. Na realidade, uma análise dos padrões de casamento de alguns grupos de países em desenvolvimento mostra claramente que os modelos adotados são distintos, refletindo escolhas deliberadas na determinação de suas políticas econômicas, um tema que será abordado na próxima semana.



 

MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 41, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e consultor econômico desta Folha.

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