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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Novas Esperanças

Na semana passada, destacou-se neste espaço que a questão salarial e a reforma institucional do mercado financeiro seriam fatores cruciais na contenção da inflação. No que diz respeito ao primeiro ponto, a medida provisória 193 foi utilizada pelo governo para ganhar tempo, evitando que as decisões da Justiça trabalhista, ao concederem correções salariais em torno de 200%, aniquilassem qualquer esperança de estabilizar a inflação no atual patamar de 10-12%. É difícil imaginar que o Congresso aprove e que o presidente Collor sancione uma política salarial que reintroduza formalmente a reindexação. Dessa forma, ganhou-se alguns meses durante os quais uma política salarial mais rígida prevalecerá sobre a generosidade excessiva dos tribunais em suas decisões trabalhistas.


Além disso, o governo está avançando na direção certa com a crescente liberalização de preços e o enxugamento do setor público. Esses avanços são acompanhados por demonstrações claras de determinação por parte do presidente da República, que não se deixa abalar por contratempos. A equipe econômica também se comprometeu a reduzir a demanda conforme necessário para estabilizar a inflação. O governo está começando a mudar as expectativas em seu favor.


No entanto, infelizmente, a ação do governo ainda é inconsistentemente orientada. Embora esteja progredindo na liberalização econômica, ainda toma medidas insustentáveis, como as recentes exigências de informações de preços e custos das maiores empresas do país. Enquanto promove a liberalização das importações, a redução de tarifas alfandegárias e a eliminação de burocracias, continua mantendo um congelamento injustificado das taxas escolares e apoiando uma lei de inquilinato prejudicial, bem como cede em negociações salariais.


No que diz respeito à reforma institucional do mercado financeiro, o governo também agiu de forma acertada ao introduzir mecanismos de taxação nos mercados de dinheiro que incentivam a prorrogação de prazos, evitando a conversão imediata de moeda convencional em moeda indexada. Essas duas medidas criaram as bases para evitar o colapso dos esforços de estabilização, que era uma preocupação há algumas semanas.


Apesar das críticas mencionadas, é importante reconhecer que o plano econômico do governo Collor está se recuperando. Isso é benéfico tanto para o governo quanto para a economia.


MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 44 anos, é doutor pela Universidade de Harvard (EUA), diretor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e consultor de economia da Folha.

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