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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Um homem singular

Chamou minha atenção no início da semana passada uma carta publicada no Painel do Leitor da Folha. Com um misto de ironia e indignação, o autor da carta indagava se o espaço Tendências/Debates era reservado apenas aos que habitualmente criticam Paulo Maluf e, de forma particularmente viciosa, em épocas eleitorais. Como colaborador, articulista e consultor da Folha há mais de oito anos, estou certo de que a evidente assimetria das opiniões externadas deve-se, sobretudo, à omissão dos que admiram Paulo Maluf. Por isso, submeto ao jornal este artigo.


Antes de conhecer pessoalmente Paulo Maluf, há cerca de três anos, tinha a respeito dele uma noção que foi filosoficamente definida por George Lukacs: um homem singular. Um homem, além de fruto de seu meio, deve ser avaliado em sua condição de ser único e, portanto, singular. Chamava-me a atenção o fato de que Paulo Maluf podia ser idolatrado ou repudiado, mas não podia ser ignorado. As informações que tinha a seu respeito, a partir dos meios de comunicação, não eram em geral abonadoras: "político biônico", "filhote da ditadura", "esbanjador do dinheiro público" e "megalomaníaco".


Alguns meses antes da eleição para o governo do Estado, em 1990, quando era diretor da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, fui convidado para uma reunião com Paulo Maluf e passei a coordenar a elaboração de seu plano de governo. Com o passar do tempo, verifiquei que os rótulos que foram impressos na imagem daquele político e que fizeram dele um autêntico bode expiatório de todas as mazelas do período militar não conseguiam mais se encaixar no "produto", por assim dizer.



Durante mais de duas décadas de ditadura, muitos que efetivamente haviam sido tudo aquilo de que acusam Paulo Maluf, e muito mais, simplesmente desapareceram do mapa político. Isso aconteceu seja porque preferiram não enfrentar o julgamento popular nas urnas, seja porque deles os eleitores não guardaram qualquer lembrança digna de votos. Outros simplesmente sobreviveram agasalhados em partidos da "resistência".


Com Paulo Maluf não foi assim. Sua singularidade política resistiu ao patrulhamento que fez do PDS um símbolo de maldição e recusou-se a abandoná-lo, como muitos fizeram.



Sua votação recorde para deputado federal e suas crescentes votações nas eleições majoritárias seguintes, pelo PDS, partido que consolidou nacionalmente e que hoje preside, revelaram que a singularidade de Paulo Maluf, apesar de toda a mistificação de que foi vítima, encontrava correspondência cada vez maior na sociedade. E, para desespero de seus opositores, encontrava, como ainda hoje acontece, uma correspondência ainda maior nas parcelas menos favorecidas desta mesma sociedade.


Ainda no dia 3 de outubro passado, nos estúdios do canal 13, ouvi uma indagação acerca das causas do "fenômeno Paulo Maluf" emitida por um desolado intelectual que se declarava incapaz de entender as razões de tão surpreendente resultado eleitoral.


Vou tentar responder a partir de meu conhecimento pessoal de Paulo Maluf, mas com a certeza de que esta opinião não difere da imagem que dele fazem seus milhões de eleitores.


Paulo Maluf é um homem rico de berço, todos sabem. Não faz da política um meio de vida, mas também não vive sem política. Disputa eleições para poder aplicar sua concepção de um governo e de um Estado moderno, onde a cidadania não seja um conceito fluido que desapareça na fila de um hospital ou na falta de vaga numa escola. Paulo Maluf representa uma nova postura. O estilo pode não agradar, mas seus inimigos insistem em confundir suas características pessoais com seu estilo político-administrativo, dinâmico e moderno.



Dizem que Paulo Maluf não é honesto. De que o acusam, no entanto? Será preciso repetir o ridículo de uma administração estadual que foi paralisada para apurar irregularidades, e o tiro saiu pela culatra ao encontrarem absolutamente nada?


Flores e fuscas? No primeiro caso, apenas um capricho de acusadores ressentidos. No segundo, apenas um detalhe técnico negligenciado. A "doação" havia sido aprovada na Câmara Municipal, mas deveria ter sido chamada de "homenagem", ou vice-versa. Tudo se resumiu a isso!


Acusam-no de "biônico", mas não se vê o mesmo tratamento a outro prefeito igualmente "biônico" cujas bandeiras tremulam em propagandas eleitorais dos próprios acusadores. Hipocrisia.


Duvidam dos conhecimentos técnicos de Paulo Maluf com base em avaliações jornalísticas. Mas esta alegação é tão ridícula quanto afirmar que Fábio Feldman não conhece ecologia. Qual a credibilidade de testes que o reprovam em seu reconhecido campo de expertise? Há, sim, que se desconfiar dos examinadores que chegam a tão esdrúxulas avaliações, e não dos examinados.



Criticam Paulo Maluf por se recusar a lotear cargos em sua futura administração. No desespero acusatório, chegam até a dizer que lotear cargos é regra essencial à convivência democrática, só para concluírem que Paulo Maluf é autoritário.


Acusam-no de firmar acordo com seu mais feroz inimigo, Orestes Quércia. Para quê? Para buscar votos? Mas qualquer iniciante na política paulista sabe que o resultado seria o oposto. Mais uma cilada que será rapidamente desmascarada.


Acusações sem provas, distribuição de folhetos apócrifos, agressões raivosas e desesperadas. Este é o estilo que, infelizmente, imprimem ao final da atual campanha eleitoral. Desconsideram que, ao agredir Paulo Maluf, agridem também seus mais de dois milhões de eleitores em São Paulo, nem todos malufistas, mas que veem nele uma liderança política incontestável.



Hoje, nem mesmo os intelectuais "progressistas" gostam de miséria. Mas teimam em continuar pondo em prática filosofias econômicas e sociais que a multiplicam com trágica fertilidade.


Paulo Maluf vai fazer da cidade de São Paulo um motivo de orgulho para seus habitantes. Sua visão moderna do exercício do poder, transparente nos compromissos firmados e nas metas definidas, é um sopro de esperança para muita gente, embora incomode a alguns. Estes poucos incomodados temem que a administração de Paulo Maluf na Prefeitura de São Paulo possa ser uma revolução para todo o Brasil. Nisso, e apenas nisso, eles têm razão: vai ser mesmo.




MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 46, é vereador eleito pelo PDS de São Paulo e presidente regional do partido. Doutor em economia pela Universidade de Harvard (EUA), é professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP).





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