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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

A primeira vítima do plano FHC


Com a desistência de Paulo Maluf da corrida presidencial, o plano de estabilização fez sua primeira vítima. O PT deixa de ter o opositor que sempre lhe agradou e que permitia levar as campanhas para um lado político-ideológico que sempre lhe foi muito favorável.

Agora, será a evolução do plano que definirá vencedores e vencidos. Caso surta efeitos positivos no controle da inflação e nas taxas de emprego, o próximo presidente e muitos governadores serão do PSDB.

O plano vai bem, por enquanto. É provável que, até as eleições, a inflação se reduza muito com o real. O macete da URV, que sincroniza os reajustes de preços e permite a criação do real, será capaz de extirpar a inércia inflacionária.

Apenas perdurará a inflação estrutural, que, segundo estimativas, não chegou a 5% em 93. Sem o arrasto da inflação inercial, poder-se-ia dizer que o Brasil teve uma inflação de Primeiro Mundo em 93.

Porém, mesmo que a inflação caia para 1% ou 2% nos primeiros meses após o real, corre-se o risco de uma rápida reinflação. A qualquer sinal de inflação, os agentes econômicos buscam a indexação para defender suas parcelas na renda nacional e um repique inflacionário é logo detonado.

Outro agravante é o fracasso das reformas estruturais. A revisão da Constituição está sendo um blefe estrondoso. Grandes temas não foram discutidos. Hoje, o Congresso apenas improvisa pautas e discute superficialmente os temas. Em alguns casos, para disfarçar, sugere-se jogar temas importantes, como a reforma tributária, para a legislação ordinária, apenas para fazer constar que o assunto foi tratado e discutido.

Ademais, o ajuste fiscal é apenas uma promessa. O governo federal ainda não tem Orçamento para 1994. Portanto, o controle das contas públicas é só uma expectativa, de difícil execução em anos eleitorais.

O Plano FHC poderá ser um legítimo fazedor de presidente ou um execrável usurpador. Dependerá de como for conduzido nos próximos meses. Tudo indica que a inflação será muito baixa no segundo semestre do ano e que os dividendos eleitorais serão polpudos.

Mas mantê-la baixa será o grande desafio.

 

MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

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