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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Há que aguardar


A cada dia surgem novos sinais de alerta acerca do andamento do plano de estabilização. Não se trata de alarmismo, mas se acumulam evidências de que o governo não está executando sua estratégia de combate à inflação da forma como anunciou.

Semana passada apontamos as dificuldades que o governo vem encontrando para conter o déficit público. No conceito de caixa há evidente desequilíbrio. E nada indica que a situação vá melhorar. No tocante às reformas estruturais, sem as quais o controle orçamentário não será concretizado de forma permanente, também não há razões para otimismo, dado o fracasso da revisão constitucional.

Agora, começam a pipocar preocupações com respeito ao processo de conversão de preços à URV. Há mais dificuldades do que antes imaginadas.

A idéia da URV é uma só: “inercializar” a inflação. Em outras palavras, fazer com que todos os setores reajustem seus preços de forma sincronizada, com a mesma periodicidade, e seguindo um indexador único, tornando a inflação neutra do ponto de vista distributivo. Se isto ocorrer, a inflação fica estável e a dispersão dos aumentos de preços setoriais em torno da taxa de inflação seria minimizada. Satisfeitas estas condições, a criação do real poderia ocorrer com menores riscos de inflação na nova moeda.

As evidências mostram que estas duas condições estão longe de serem atendidas.

A inflação não dá mostras de estabilidade. Todos os índices de preços apontaram significativa aceleração inflacionária em março. O IGP-M saltou de 40,48% em fevereiro para 45,71%. O IPC da Fipe saiu de 38,19% e cravou 41,94%. O ICV do Dieese foi de para 45,5%. E 0 IPCA do IBGE disparou de 39,7% para 43,63%.

Em abril o índice da Fipe poderá atingir 45%, dando continuidade à sua tendência de alta. Por outro lado, os índices da FGV e do IBGE mostram tendência de queda.

O ideal seria que os índices de preço se estabilizassem. Contudo, em abril, alguns sobem enquanto outros caem. Isto indica que os preços relativos estão desalinhados, e o conflito distributivo ainda não foi resolvido.

Em resumo, as condições não são propícias para a troca da moeda. Apressá-la poderá causar o rápido surgimento de inflação no real, desacreditando por completo o plano de estabilização.

 

MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

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