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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Crescimento ou inchaço

Recente sondagem da Fiesp mostra que a economia vive bons momentos. A estabilidade monetária, mesmo titubeante, conseguiu reverter a estagnação crônica de quase uma década. Estima-se uma expansão de 4,5% do PIB em 94. A produção automobilística bateu todos os recordes, com expansão de 14%. As exportações cresceram 12%. A siderurgia, recém-privatizada, cresceu cerca de 4% e transformou prejuízos estatais em lucros privados (a Cosipa saiu de prejuízo de US$ 600 milhões em 93 para lucro de US$ 27 milhões em 94). O desemprego vem caindo, ainda que mais lentamente do que o desejável, indo para 4%, uma das mais baixas taxas em quatro anos. A produção agrícola prevista é promissora, com expansão de 10%. Como se pode verificar, a economia brasileira mostra um dinamismo e uma capacidade de resposta notáveis. Ao menor estímulo positivo, os indicadores econômicos explodem.


Mas o que deveria ser motivo de júbilo e comemoração vem causando preocupação. A todo momento o governo alerta para a explosão do consumo. Os indicadores mostram que a produção atinge níveis que esgotarão a capacidade do parque produtivo. Mais de um terço das indústrias paulistas ultrapassou 80% de utilização de sua capacidade. Cerca de 42% terminaram 94 com estoques de matérias-primas e de mercadorias baixos. Nesse cenário positivo, porém ameaçador, o governo é forçado a adotar medidas de restrição ao crédito e de controle de financiamento ao consumo. As taxas de juros não cedem, apesar de altas. Gargalos começam a pressionar os preços de setores como materiais de construção e embalagem. A política do "stop and go" deve reaparecer.


Os investimentos em aumento de capacidade são modestos. A sondagem da Fiesp mostra que só 13% das empresas pretendem investir mais de 20% de seu faturamento em 95. Quase 10% não farão qualquer investimento. Ainda falta confiança para transformar o inchaço da produção forçada em massa muscular bem-tonificada, para sustentar um novo ciclo de crescimento auto-sustentado.


 


MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, 48 anos, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA). É vereador da cidade de São Paulo pelo PL e professor titular da Fundação Getúlio Vargas (SP). Foi secretário do Planejamento e de Privatização e Parceria do Município de São Paulo na administração Paulo Maluf.

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