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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Nem tudo são rosas

O futuro do Plano Real começa a preocupar.

Um dos principais critérios de avaliação da atual política econômica é a evolução da taxa de inflação. Ela mostra um estrondoso sucesso. Contudo, a queda da inflação não é uma meta em si mesma. O que realmente se deseja é retomada do crescimento econômico, geração de empregos e melhoria do bem-estar da população.

O Plano Real conseguiu, até o momento, o acessório (inflação baixa), mas não o essencial (bem-estar econômico e social).

Começam a surgir evidências de que nem mesmo a estabilidade monetária está garantida a médio prazo. A evolução dos fatos e as dificuldades do governo em conduzir seu plano de reformas estruturais deixam uma sensação de incerteza.

Vejamos alguns indícios. A lógica destrutiva da indexação ainda não foi extirpada e pode ser ressuscitada pela ação imprudente do governo. O Tribunal Regional do Trabalho reindexou os salários dos metalúrgicos de São Paulo; e o governo aumenta as tarifas de serviços públicos, inclusive energia elétrica, apelando para cálculos da inflação acumulada, ao invés de custos.

O ajuste fiscal ainda não foi realizado e todos sabemos que, sem ele, a contenção dos índices de inflação só é possível no curto prazo, com medidas contencionistas e com políticas de valorização do real, juntamente com a abertura punitiva dos mercados nacionais.

O déficit operacional do setor público será de 3% ou 4% do PIB, em 1995. Para o ano que vem, as previsões apontam para resultados igualmente decepcionantes. Poderá chegar a 3% do PIB. A continuidade do Fundo Social de Emergência apenas transfere déficit do governo federal para os Estados e municípios. As reformas estruturais estão cada vez mais encalacradas em dificuldades políticas e indefinições técnicas.

A política monetária não está sob controle. Em nove meses, até setembro, a liquidez real da economia cresceu, vistos os indicadores ampliados. O M4 cresceu 32%, mais do dobro da inflação acumulada em 1995.

Pessimismo? Alarmismo? Não. Só alertas que, se levados a sério, podem evitar o pior.

 

Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, doutor em Economia pela Universidade de Harvard (EUA).

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