top of page
  • Marcos Cintra - Diário do Comércio

Dependência em um mundo em crise

Fatores externos, como a crise na Argentina, o desaquecimento da economia mundial e as consequências dos ataques terroristas nos Estados Unidos, têm o potencial de agravar o desempenho negativo da economia brasileira. Pode até ocorrer uma contração da atividade econômica nacional. Infelizmente, o governo não tomou medidas efetivas para reduzir a extrema dependência externa do Brasil. Neste momento, em meio à turbulência global, essa falta de ação pode levar a uma séria crise econômica, que pode persistir nos anos seguintes caso os conflitos internacionais se intensifiquem.


O governo brasileiro não demonstrou disposição em implementar ações concretas para ajustar as contas externas do país. Parecia acreditar que a perspectiva de um influxo significativo de investimentos estrangeiros seria suficiente para cobrir o déficit em conta corrente. No entanto, com a crise global, esses investimentos tendem a diminuir, o que agravará o déficit das contas externas.


A recessão interna e a desvalorização do real podem melhorar a competitividade das exportações brasileiras. No entanto, caso ocorra uma desaceleração econômica global, esses ganhos podem ser parcialmente anulados. Além disso, uma parte significativa do déficit corrente corresponde ao pagamento de juros da dívida externa, e esse componente não se reduz com a recessão e a desvalorização do real. Isso criará uma pressão significativa sobre o balanço de pagamentos.


As autoridades econômicas podem alegar que eventos imprevisíveis no cenário global levaram a essa situação. A verdade é que, nos últimos sete anos, desde a conquista da estabilidade monetária com o Plano Real, o governo não tomou medidas para reduzir a vulnerabilidade externa do país. A prioridade foi a geração de superávits primários para lidar com a explosiva dívida interna, que aumentou 900% em sete anos, em grande parte devido a erros na condução da política cambial nos primeiros anos do Real.


É notável como o governo federal acumulou erros sucessivos na gestão da economia. O custo dessas falhas para as famílias e o setor produtivo tornou-se insustentável. Hoje, o Brasil enfrenta uma série de desafios, incluindo perspectivas de recessão, uma carga tributária elevada que prejudica a competitividade econômica e gera injustiças sociais, altas taxas de desemprego e subemprego, dívidas interna e externa que ultrapassam R$ 1 trilhão (equivalente à produção anual do país) e uma dependência externa significativa.


Diante disso, é essencial que o governo adote uma nova postura na condução da política econômica. As crises podem trazer oportunidades, e o país deve aproveitá-las, inclusive para reduzir sua excessiva dependência em relação ao resto do mundo.


Marcos Cintra é deputado federal.

Topo
bottom of page