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  • Marcos Cintra

Corrupção e dinheiro público

A atual administração do município de São Paulo tem tropeçado em sérias irregularidades apontadas por seus órgãos fiscalizadores, pela imprensa e pelo Ministério Público. Primeiro, veio o escândalo dos precatórios. O relatório da CPI que apurou o assunto aponta o esquema concebido no interior da estrutura burocrática municipal próxima do prefeito e disseminado por diversos estados. No desenrolar das investigações, Celso Pitta ficou devendo explicações à sociedade paulistana. Em seguida, veio o episódio da máfia dos fiscais que extorquia camelôs e empresas formais para acobertar situações ilegais. A cobrança de propinas para acobertar desvios no tocante às posturas municipais, desde construções ou reformas clandestinas até estabelecimentos de comércio ou de prestação de serviços em local não permitido, assim como publicidade fora das normas que disciplinam, em esquema orientado por vereadores de São Paulo, chocou a opinião pública. Forçou investigações com instalação de CPI na Câmara Municipal, apontou alguns culpados e cassou mandatos, mas parece não ter esgotado o assunto. A CPI que poderia investigar o prefeito não foi adiante, contrariando a expectativa de toda a sociedade.


Em todos esses acontecimentos, a posição do prefeito foi de apatia, de aparente indiferença, sem explicações convincentes. A ausência de obras de conservação e expansão da infraestrutura; a crise recorrente nos transportes coletivos e no serviço de coleta de lixo; a inexistência de prevenção de enchentes e de assistência adequada aos flagelados, tudo bem ilustra a paralisia da administração da cidade.


Agora, as revelações da esposa do prefeito Celso Pitta caem como bomba sobre uma gestão abalada por sucessivos escândalos. As denúncias sobre concorrências com cartas marcadas, compras superfaturadas, barganha por votos na Câmara, expansão patrimonial no exercício de cargo público, etc., envolvem sempre os mesmos personagens políticos, empreiteiras, concessionárias de serviços públicos. O orçamento de São Paulo, que já é uma coberta curta face às necessidades da população, não suporta mais tantos desvios de dinheiro.


Sanear as finanças, missão do próximo prefeito, é uma tarefa tão fundamental quanto erradicar a corrupção. A população de São Paulo definitivamente quer um governo comprometido com a moralidade no trato da coisa pública. Este princípio, juntamente com propostas novas e consistentes, são regras que ditarão as eleições deste ano.


 

Marcos Cintra C. Albuquerque, 54, é doutor em Economia pela Universidade Harvard e professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. É deputado federal por São Paulo.


Publicado no Jornal A Fronteira 22/03/2000

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