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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

O povo sabe


O jornalista Mauro Chaves declarou guerra à governadora Roseana Sarney em seu artigo "Os Sarneys e o charme da miséria", de 12 de janeiro de 2002, n" "O Estado de S. Paulo". Resolvi investigar os números e buscar a verdade. Concluí que o altíssimo índice de aprovação da governadora Roseana Sarney, 88%, reflete sobretudo o esforço despendido pelo governo maranhense na superação das carências históricas do Estado e a percepção, por parte da população, de que a situação está melhorando. Portanto, deixando de lado a retórica, vamos aos números. De 1996 a 1999, o PIB do Maranhão, segundo os dados e a metodologia da Sudene, registrou uma taxa de crescimento real de 29,9% -ou 6,7% de aumento médio no período. Para o Brasil, o PIB real aumentou apenas 6,4% -ou 1,6% de crescimento médio anual. O crescimento do PIB per capita dos maranhenses no mesmo período foi de 23,5% (5,3% médios anuais), enquanto o crescimento do PIB per capita brasileiro foi de apenas 1,4% no mesmo período. Os dados do IBGE comprovam a mesma tendência de forma menos dramática, ou seja, o crescimento do PIB maranhense entre 1995 e 1999 foi de 55%, ao passo que, no Brasil, a expansão foi de 49%. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) entre 1993 e 1999 mostram que as taxas de crescimento da renda familiar foram, respectivamente, para o Maranhão, para o Nordeste e para o Brasil, de 32,8%, 23,3% e 22%. Também os indicadores de distribuição de renda evoluíram favoravelmente. Entre 1993 e 1999, a renda média dos 10% mais pobres da população maranhense aumentou 147,3%, enquanto para o Nordeste e para o Brasil a evolução foi de 73,7% e 36,7% respectivamente. A proporção de pobres no Maranhão diminuiu 7,5% e a de indigentes caiu 15,3%. Para a região Nordeste, a queda foi menor, de 8,3% e 11,1%, respectivamente; o mesmo acontecendo com as taxas nacionais, de 7,8% e 5,2%. Vale apontar que, como resultado dessa evolução na taxa de geração e distribuição de renda, o Maranhão mostra um coeficiente de concentração de renda (Gini) de 0,575 -o mais baixo do nordeste e inferior à média brasileira, de 0,595. Houve, portanto, mais crescimento, com maior distribuição de renda que no restante do país. Agora, aos indicadores sociais. Segundo dados do PNAD, do IBGE, de 1993, 49% dos domicílios maranhenses eram servidos por banheiros, proporção que, em 1999, passou para 57%. Entre 1995 e 1999 a taxa de analfabetismo caiu de 31,7% para 28,8% (em 1985 era de 43,5%); a escolaridade média aumentou de 3,2 anos para 3,6 anos (era de 2,2 anos em 1985); e a percentagem da população com alguma educação superior saiu de 2,2% e atingiu 3% (1,5% em 1985). A percentagem de crianças de 7 a 14 anos fora da escola foi reduzida de 15,1% para 5,3% (era de 36,1% em 1985). Em 1999, 94,7% das crianças maranhenses frequentavam a escola (a média brasileira era de 95,7%). No Maranhão, apenas 64,9% o faziam em 1981, e 75,4% na média brasileira, o que evidencia significativa melhoria na posição absoluta e na situação relativa do Estado. Em relação à habitação, o acesso à água em condições adequadas, que em 1995 chegava a apenas 32,4% dos domicílios, atingiu 41,3% em 1999; a rede de esgotos partiu de 24,3% para 28,3%; a coleta de lixo, de 21,9% para 29,7%; e a iluminação elétrica foi de 67,5% para 79,1% dos domicílios no Estado. A taxa de mortalidade infantil caiu de 71 por 1.000 crianças nascidas vivas para 54,2 por 1.000, acompanhando a tendência de queda ocorrida em todo o país. A mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias proporcional nas crianças de menos de 1 ano de idade, que em 1992 era mais alta que a média nacional, tornou-se ligeiramente mais baixa que o índice brasileiro em 1998. No tocante às doenças respiratórias, a mortalidade proporcional no Maranhão é inferior à média nacional e significativamente mais baixa que as médias do Sul e do Sudeste, as regiões de mais alto nível de desenvolvimento do país. Quadro semelhante ocorre com as afecções perinatais, cujos índices encontrados no Maranhão são melhores que os índices nacionais. Enfim, se os índices sociais e econômicos demonstram que ainda há deficiências a serem corrigidas e que o Maranhão ainda é um Estado pobre relativamente às demais regiões do Brasil, não há como deixar de reconhecer que o quadro vem sendo rapidamente revertido. Não é por outra razão que a Fundação Getúlio Vargas apontou que, entre 1992 e 1999, o Estado foi o que mais rapidamente criou condições de acesso de sua população a bens duráveis (1º colocado entre todos os Estados brasileiros); acesso a serviços públicos como água, esgoto, energia e coleta de lixo (2º colocado); e qualidade nas condições de moradia, como tipo de construção, acesso a banheiro e número de pessoas por moradia (4º colocado). O que os dados mostram é um quadro bem diferente do sugerido por Mauro Chaves. Se o Maranhão ainda é uma região pobre dentro de um país pobre, é certo que ele é o Estado em que os problemas vêm sendo mais rapidamente superados. Ser pobre não é vergonha; vergonhoso e não tentar superar a miséria. A governadora Roseana Sarney vem fazendo melhor do que qualquer outro governador brasileiro e, por isso, o povo lhe conferiu 88% de aprovação e a colocou no topo da lista dos melhores governadores do país. Mauro Chaves está errado. Não há charme na miséria que ainda existe no Maranhão. Mas há muito encanto e alegria em sua superação. O povo sabe disso.

 

MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

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