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  • Marcos Cintra - Diário do Comércio

Classe média mais pobre

Durante o ano de 2001, a inflação medida pelo IGP-M da Fundação Getulio Vargas chegou a 10,38%. Somente em julho deste ano, o mesmo índice atingiu 1,95%, número causado pela pressão do dólar e pelos aumentos nos preços administrados pelo poder público, como combustíveis, gás, telefone, energia elétrica, entre outros. Em um momento em que o mercado consumidor já apresenta números desanimadores, o aumento repentino do IGP-M, juntamente com a agitação na economia mundial, gera mais incertezas na economia interna. Os preços ao consumidor não subiram ainda mais em julho devido à redução da demanda em vários setores. Supermercados e shoppings, por exemplo, registraram quedas significativas nas vendas durante o primeiro semestre de 2002 em comparação com o mesmo período do ano passado.


Os salários no Brasil vêm perdendo seu poder de compra ano após ano desde 1998. Nesse período, 35% do salário real evaporaram. Essa situação é crítica, uma vez que a queda na renda diminui o consumo, o que, por sua vez, leva ao fechamento de postos de trabalho no setor produtivo, criando um círculo vicioso prejudicial.


Desde 1997, fatores externos têm causado estragos na economia brasileira. Primeiro, a crise asiática e, em seguida, a moratória russa. Em seguida, vieram a recessão americana e a crise na Argentina. A desvalorização cambial e as altas taxas de juros foram as ferramentas usadas pelo governo brasileiro para proteger a economia de uma possível catástrofe. No entanto, medidas estruturais não foram implementadas para reduzir a excessiva dependência externa do Brasil e o alto custo do financiamento da dívida pública. Pelo contrário, esses problemas se agravaram nos últimos anos.


O financiamento da dívida pública é um dos principais fatores responsáveis pela apropriação de riqueza pelo governo brasileiro. Atualmente, 40% do PIB e 90% dos recursos bancários são destinados ao poder público, enquanto a média mundial é de 15% e 8%, respectivamente. Grande parte desses recursos poderia estar financiando os agentes produtivos, gerando empregos e renda.


As recentes fraudes contábeis em grandes corporações americanas e europeias também contribuíram para a fuga de dólares necessários para o Brasil equilibrar suas contas. Instituições de crédito internacionais estão limitando o financiamento ao Brasil, reduzindo a oferta de dólares e pressionando sua cotação. Tudo indica que o Brasil não poderá evitar o recurso ao FMI para obter entre US$ 15 e US$ 20 bilhões. Isso não ocorreu por falta de alertas. O governo não agiu de forma a promover reformas estruturais para reduzir a dependência externa e diminuir sua participação na apropriação de recursos privados. Hoje, a empobrecida classe média, que deveria ser um dos pilares do crescimento econômico, paga um alto preço pela imprudência do poder público.



Marcos Cintra é deputado federal.

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