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  • Marcos Cintra - Folha de S.Paulo

Comércio nanico


Dados do Banco Mundial mostram que nos cinco primeiros anos deste século as exportações mundiais cresceram mais de 60% em termos nominais. Saltaram de US$ 5,5 trilhões em 1999 para US$ 8,9 trilhões em 2004. A crescente abertura da economia mundial vem aumentando o peso da atividade exportadora como elemento dinamizador do crescimento econômico das nações. A correlação entre a expansão do produto nacional e as exportações é cada vez mais expressiva. No Brasil, as exportações vêm batendo recordes desde 2000 e os superávits comerciais são crescentes desde 2001. Em meados da década de 90, a balança comercial brasileira, que registrava saldos positivos desde 1981, tornou-se deficitária. As importações dispararam, e em 1997 o saldo negativo atingiu o pico de US$ 6,7 bilhões. Nos três anos seguintes, ele persistiu, mas foi decrescente ano após ano. Em 2001, houve superávit de US$ 2,6 bilhões, e desde então o fluxo comercial externo tem registrado saldo positivo e crescente. O superávit saltou de US$ 13,2 bilhões em 2002 para mais de US$ 40 bilhões em 2005, e as exportações em relação ao PIB cresceram no mesmo período de 4,5% para cerca de 6%. A balança comercial tem sido um dos sustentáculos do crescimento do PIB brasileiro nos últimos três anos, sobretudo em 2004, quando a economia cresceu quase 5%. A queda do PIB no terceiro trimestre de 2005 só não foi maior em razão do desempenho positivo das exportações. A análise objetiva dos fatos mostra, contudo, que a triplicação do saldo comercial e a duplicação das exportações entre 2002 e 2005 foram causadas muito mais pela expansão da economia mundial do que pelos méritos da política econômica interna. Em 2003, o PIB mundial cresceu 4%; no ano passado, 5,1%. Para 2005, está prevista expansão na casa dos 4%. Países emergentes crescem entre 7% e 9% há anos, como resultado da expansão de suas vendas externas. De 1994 a 2004, a Rússia aumentou suas exportações de US$ 67 bilhões para US$ 184 bilhões; a Índia, de US$ 25 bilhões para US$ 76 bilhões; o Chile, de US$ 11,6 bilhões para US$ 32 bilhões; a Argentina, de US$ 15,6 bilhões para US$ 34,4 bilhões; e a China, de US$ 121 bilhões para US$ 593 bilhões. No Brasil, o salto foi de US$ 43,5 bilhões para US$ 96,5 bilhões. A tabela acima mostra que, apesar de todo o alarde em torno da balança comercial brasileira, ainda somos nanicos no comércio global. Os emergentes estão fazendo o Brasil comer muita poeira no comércio mundial. O pequeno avanço previsto na participação brasileira em 2005 pode ser passageiro, uma vez que a previsão da OCDE de crescimento de 9,1% do comércio global em 2006 é superior à estimativa de crescimento das exportações nacionais. Ademais, a armadilha criada pela política econômica no tocante ao câmbio faz surgir o risco de perda de mercados. A economia globalizada acentua crescentemente o papel estratégico do comércio internacional no desenvolvimento econômico. Países como a China adotaram políticas de crescimento enfatizando a importância do setor exportador. O Brasil precisa seguir o mesmo caminho, eliminando entraves internos à expansão de sua competitividade e adotando uma atitude de maior agressividade comercial tendo como parceiros países que podem contribuir para incrementar nossa fatia no comércio global. O 15º PIB do mundo não pode continuar com tão pouco de participação no comércio global.

 

MARCOS CINTRA, doutor em economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas.

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