Não há página em branco na economia política da tributação
Todos os articulistas em jornais, todos mesmo, criticam a Reforma Tributária por ter aberto demais as possibilidades de redução de alíquotas e de regimes diferenciados. E afirmam que a PEC 45 original era bem melhor que a sua junção com a PEC 110.
Concordo com esta conclusão, mas o desenlace final saído do Senado era TOTALMENTE previsível.
A PEC 45 original, com poucos tratamenos favorecidos seria um projeto ideal para a começar um sistema tributário do ZERO, como fizeram os países do leste europeu.
Mas no Brasil, a crítica que chaga a culpar lobbies e interesses escusos de setores privilegiados de buscarem benefícios, ignora que o IBS vem se juntar a um conjunto de tributos que já formam um sistema. Bom ou mau, o sistema existe. E a introdução de novos elementos desequilibra o sistema, e suscita reações legítimas, como a do setor de servi;ós que terá uma enorme elevação de carga tributária.
Esse fenômeno é reconhecido na literatura econômica, path dependency, mas foi ignorado no Brasil.
Resultado: conflito, desconfortos, acusações e atrasos.
Tudo inevitável, ainda mais considerando que os deslocamentos de carga tributária causados pela PEC 45/110 ignoram a carga tributária global suportada pelos vários setores econômicos.
Mostrei na Conjuntura Econômica de abril que a carga global dos serviços é mais alta que a da indústria.
Se houver aumento de carga na tributação do consumo, a discrepância se acentua, contrariando o necessário equilíbrio macroeconômico do país.
Ou seja, tudo como previsto e nada como surpresa na economia política da tributação.